Valor Econômico
Maurício Capela, De São Paulo
O Brasil entrou na rota de investimentos da norueguesa SN Power. Criada globalmente em 2002 com o objetivo de investir em geração de energia, a partir de fontes renováveis, em mercados emergentes. A companhia pretende despejar R$ 2 bilhões no país até 2010 e formar um parque de aproximadamente 600 megawatts (MW). E o objetivo é erguer empreendimentos hídricos e eólicos.
Ricardo Martins, diretor de desenvolvimento de negócios da SN Power, conta ao Valor que a idéia é ter 500 MW de fonte hídrica e 100 MW de eólicas no país. E a estratégia varia de acordo com o insumo. No caso das eólicas, Martins explica que o grupo norueguês buscará adquirir projetos que ainda não tenham saído do papel, enquanto que na hídrica a meta é comprar desde Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) até hidrelétricas prontas. "Mas estudos hídricos também nos interessam. Só não temos intenção mesmo em participar da construção de usinas na Amazônia", conta o executivo.
Martins, que passou a primeira metade do ano formatando o planejamento estratégico da SN Power no país, conta que as negociações de compra estão em andamento. E deixa claro que a multinacional não abre mão de ser majoritária nos projetos incorporados, tanto que se a Cia. Energética de São Paulo (Cesp) tivesse suas concessões de usinas renovadas e fosse levada novamente à leilão, o grupo norueguês participaria da disputa.
O executivo não esconde que estuda também participar dos leilões de energia do governo federal, desde que alcance uma taxa de retorno compatível com o investimento. "O nosso único alvo é a geração de energia a partir de fontes renováveis no país. Não temos interesse em transmissão ou distribuição", garante Martins.
Mas a vontade da SN Power em investir aqui não é à toa. Segundo a diretriz estratégica da multinacional, o país e a Índia serão as peças-chave do crescimento global da empresa imaginado para 2015.
Hoje, a SN Power possui 580 MW em operação e a projeção é que chegue em 800 MW no ano que vem. Esses empreendimentos estão espalhados por Chile, Peru, Índia, Filipinas e Nepal. Além desse montante, a empresa ainda tem 1,8 mil MW em estudos, sendo 1,75 mil MW em hidrelétricas e 50 MW em eólicas.
Mas a meta para 2015 é mais ambiciosa. É gerar 4 mil MW de energia a partir de fontes renováveis em mercados emergentes. E é nesse cenário que Brasil e Índia são fundamentais.
Mas se o Brasil é peça-chave no planejamento mundial por que só agora a SN Power resolveu desembarcar por aqui? Segundo Ricardo Martins, o país tem sido alvo de estudos da multinacional desde 2002, quando a empresa colocou seu pé no Chile e Peru. E a empresa só não veio para cá naquela data porque o Brasil havia acabado de por um ponto final no racionamento de energia, que reduziu drasticamente a demanda pelo insumo. "Naquela época, a McKinsey fez um estudo para a SN Power sobre a América do Sul e constatou que o Chile e o Peru ofereciam melhores condições de investimento no curto prazo", conta o executivo.
Grupo nasceu da união de duas estatais da Noruega
A SN Power ainda não completou uma década de vida, mas já alcançou um faturamento desejado por muitas empresas do setor de energia. Controlada por dois grupos estatais da Noruega, o fundo de investimento Norfund (50%) e a geradora de energia elétrica Statkraft (50%), a empresa alcançou uma receita perto de US$ 200 milhões por ano.
Com projetos de energia renovável espalhados por Índia, Nepal, Filipinas, Chile e Peru, a SN Power sabe que crescer na Ásia, América do Sul e Oriente Médio é sua obrigação. E para isso a companhia conta com a experiência da Statkraft.
Maior geradora norueguesa de energia elétrica, a companhia tem uma capacidade instalada de 12 mil megawatts em usinas espalhadas pela Suécia, Inglaterra e Alemanha, além da própria Noruega. São 164 hidrelétricas, três eólicas e duas termelétricas a gás natural. "A receita global da Statkraft é equivalente a R$ 6 bilhões por ano e o seu lucro líquido se aproxima dos R$ 2 bilhões", conta Ricardo Martins, diretor de Desenvolvimento de Negócios da SN Power.
O Norfund também está longe de ser pequeno. Criado pelo governo norueguês para realizar investimentos em países em desenvolvimento, o fundo gerencia uma carteira que tem ativos perto dos R$ 2 bilhões.
Atualmente, o Brasil é a aposta da SN Power, juntamente com a Índia. Mas o executivo garante que há outros países na América do Sul sendo observados pela companhia. "Por ora, existem apenas estudos na região", conta o diretor de desenvolvimento de negócios.
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