Índios bloqueiam ponte sobre o rio Juruena - Parte I
Relato do Professor Vitório, morador de Juina e que estava de passagem pelo local no dia 18 de maio de 2008
"Domingo, 18 de maio de 2008, por volta das 5.30, vários povos (etnias) indígenas bloquearam a única ponte que liga Juina a Brasnorte, cuja extensão é de 900 metros. Apesar do lugar ser bastante pitoresco, dada a beleza da região e das maravilhas da natureza, o lugar está totalmente desprovido de infraestrutura de acomodação para agregar um grande número de pessoas. Impossibilitando portanto, acesso a conversas telefônicas, etc.... não tem um telefone público e nem celular algum que tenha “sinal” freqüência, nesse local, ou seja, é um ponto “cego ou surdo” de celular. Resumindo, não há possibilidade de nenhum tipo de comunicação, nem mesmo os rádios de comunicação dos caminhoneiros (radio amador) funcionam neste local, mesmo com toda a tecnologia que hoje dispomos, e muitas pessoas que ali estavam, tinham celulares e algumas até notebook de última geração, que não serviam para nada naquele momento.
Nós tivemos a infelicidades ou felicidade, não sei dizer ao certo, de chegarmos ao local naquela manhã de domingo por volta das 7:00 horas, naquele momento havia ainda um pequeno grupo de pessoas e um dez veículos. Ali naquele local no lado do município de Brasnorte existe um restaurante e lanchonete, que acabou sendo o ponto de referencia de todos os que estavam ali e onde comprávamos a comida, bebida, usávamos os banheiros e muitos se confraternizavam e conversavam. Assim que chegamos de imediato fomos informados sobre o bloqueio da ponte. Em seguida tomamos conhecimento de um documento que havia sido distribuído no início do protesto pelos índios.
Vou colocar aqui um recorte desse documento que informava sobre as reivindicações que os povos indígenas estavam fazendo:
As Etnias ENAWENE-NAWE, RIKBAKTSA, CINTA-LARGA, ARARA, MYKY, IRANTXE, KAYABI, APYAKA E MUNDURUCU.
Já Mandamos Documentos para todas as Autoridades para Resolver os nossos Problema, mas ninguém resolveu e não atendeu nada, só enrolam, os nossos problemas são:
1 - Falta de atendimento e Assistência de Saúde nas aldeias, nos pólos de saúde e casa de saúde indígenas da região.
2 - Também resolver os problemas das PCH'S que estão construindo no Alto do Juruena, o Juiz já mandou paralisar as obras e até agora não pararam, e nós estamos sendo prejudicados e impactados e não recompensaram os prejuízos causados nas nossas comunidades.
3 - Resolver o problema da compensação dos impactos causados pela PCH Juina/ Rede Cemat (Cinta-Larga).
4 - Fazer estudo de impactos ambientais e compensar os Araras e Cinta-Larga sobre o prejuízos da Construção da Hidrelétrica Dardanelo em Aripuanã, que está em construção.
5 - Queremos que as Prefeituras aplique 40% dos recursos do ICMS-ECOLÓGICO diretamente nas Aldeias.
Por isso nós queremos que venham aqui atender as nossas reivindicações as Autoridades Seguintes: Presidente da FUNASA, Empreendedores das Empresas de Energia Citadas Acima, SEMA (Secretário), IBAMA, FUNAI (Setor de Meio Ambiente), Ministério Público Federal de MT e PROCURADOR (Advogado) da FUNAI, GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO, PREFEITOS DE SAPEZAL, COMODORO, JUINA, ARIPUANÃ, JUARA, BRASNORTE E COTRIGUAÇU.
Hoje dia 18 de maio de 2008, e se em oito dias não atenderem as nossas solicitações nós iremos derrubar e botar fogo nas torres de energia que passa pelo rio Juruena e que abastece as cidades.
Não vou aqui comentar as reivindicações. Cada leitor que chegue as suas conclusões. Vou tentar fazer um relato do que vi ouvi e vivenciei.
Por volta das 8:30 tivemos um primeiro diálogo com alguns índios que vieram até o local demarcado como limite que podíamos avançar, quando nos falaram sobre o motivo do movimento e que somente desbloqueariam a ponte mediante a presença das autoridades que eles citaram no documento. Tentamos argumentar que era dia de domingo, que nesse dia é quase impossível contactar algum órgão púbico e que com isso tínhamos de antemão certeza de que naquele dia nada se resolvia. O Índio com quem falávamos apenas reforçava o que já havia dito e afirmava categoricamente que ninguém passaria a não ser ambulâncias. Foi tentado negociar a passagem de uma gestante que ali estava e o Índio disse que ela poderia ter o “bebê” em qualquer lugar, ali mesmo ou Brasnorte, que isso é uma “coisa natural”.
Por volta das 10:00 horas conseguem passar pela ponte um Médico que dizia ser cirurgião e que teria algumas cirurgias a serem realizadas urgentemente e juntamente com ele passou outra pessoa que se identificou apenas como doutor, mas que muitos sabiam que se tratava de um Juíz da Comarca de Juina, que vieram com uma pessoa que foi buscá-los, que muitos disseram que se tratava de um delegado de Juina."
Bom nesse momento muitos que estavam ali detidos pelo bloqueio começam a ficar indignados e revoltados, pois, começasse a perceber que mais uma vez aqueles que detém o poder começam a resolver os seus problemas e que o povão vai ter que “se virar”, como sempre acontece. Um caminhoneta preta, também passa pelo bloqueio rumo a Cuiabá e nos informam que está levando um documento a ser entregue em Cuiabá. Uma ambulância que veio de Aripuanã também passou pelo bloqueio sem problema. Quase todas as pessoas que ali estavam tinham esperança que a tarde seriamos liberados e passaríamos pela ponte, então todas as expectativas foram sendo voltadas para esse momento, ao entardecer.
No período da tarde uma viatura da polícia militar de Juina atravessa a ponte e vem até onde estamos no ponto limite do bloqueio, para conversar conosco. O tenente nos pode que mantenhamos a calma e que a polícia militar nada podia fazer, porque aquilo que estava acontecendo ali se tratava de uma questão Federal e que a Polícia Militar nada podia fazer.
Questionei sobre a função da Polícia Militar em manter a Ordem Pública e o tenente me respondeu que ali eles nada poderiam fazer e que do lado que estávamos pertencia a Polícia Militar de Brasnorte, que, diga-se de passagem, nem até na segunda a noite não apareceu no local, mas que já deveria estar ali naquele momento. Mais uma vez nos sentimos impotentes e reféns sem ter a menor possibilidade de qualquer reação a não ser aceitar a situação posta ou voltar a Brasnorte e procurar alguma forma de chegar a Juina, mas que não tínhamos a menor intenção e nem condição de fazer isso. Continua na Parte II
PREZADA SENHORA
ResponderExcluirTELMA
SOU ALUNA DO ENSINO MÉDIO NA CIDADE DE CAMPOS DE JÚLIO, ONDE ESTÃO SENDO CONSTRUIDAS SETE PCHS, E POR ACASO ENCONTREI ALGUMA NOTICIA EM SEU BLOG, EU GOSTARIA MUITO DE PEDIR A SENHORA QUE SE TIVESSE MAIS ALGUMA INFORMAÇÃO SOBRE ESSE ASSUNTO QUE POR FAVOR ENTRE EM CONTATO COMIGO.pRECISO DE INFORMAÇÃO PARA UM TRABALHO ESCOLAR E NÃO CONSEGUI QUASE NADA.
OBRIGADA
MEU I-MAIL É pricilaadriano@bol.com.br