segunda-feira, 5 de julho de 2010

Belo Monte “caiu na boca do povo”

Telma Monteiro

Tem havido um infindável número de artigos sobre Belo Monte. Eles vêm de todos os escaninhos da sociedade. Gente que nunca escreveu se revela, instigada pela polêmica, se é que se pode chamar de polêmica. Está mais para crueldade. Belo Monte está despertando a capacidade perdida de manifestação das pessoas. O efeito é positivo. Saímos do marasmo e do monocórdio futebolístico.

A falta de manifestações é indicadora do quanto não nos aprofundamos nas grandes questões ou na simples decisões cotidianas. Desde comprar um celular novo, de última geração, até a escolha do fósforo que vai acender o carvão para o churrasco do final de semana. Como é importante que os escritos, em qualquer veículo na web, aflorem trazendo idéias e questionamentos que podem chegar às instâncias superiores. Em gente como o presidente da República ou os candidatos às próximas eleições. Diz um ditado que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.

Escrever, levantando dúvidas ou discordando, significa que se está abrindo os olhos para uma realidade até então fora do nosso alcance. Já não há em torno do assunto Belo Monte ânimos exaltados ou os chamados radicalismos ideológicos. Também não vejo “ignocentes”, nominação dada por um certo físico famoso a pessoas por ele consideradas ignorantes e inocentes. A diversidade  tem sido perceptível não só nos artigos como também nos comentários sobre eles. Amadurecemos ou estamos tomando contato com a realidade?

Não há melhor forma de começar a mudar as estratégias para atingir um grau de desenvolvimento equânime do que ir ao cerne da questão ou questões. Estamos, no caso de Belo Monte, esgotando todas as possibilidades de análise. Isso é salutar e desvenda aquilo que às vezes se quer escondido. O Brasil precisa mais do que nunca que as pessoas se engajem nos temas que têm pautado blogs, redes sociais, jornais, revistas eletrônicas, alternativos ou não. Ainda é pouco diante da fúria avassaladora das propostas do governo federal para expropriação dos recursos da Amazônia.  Mas é um começo promissor.

Belo Monte está sendo um marco nesse sentido. Gente desconhecida entrando na discussão, anônimos postando comentários, pessoas que permanecem de forma acalorada argumentando em redes sociais. Enriquecimento da cidadania. Todos, parece, querem “dar um pitaco” sobre a questão.  Não importa se têm algum conhecimento do tema, importa é que estão aprendendo e querem sair do escuro. Alguma sensibilidade está se descortinando.

É perceptível o interesse de pessoas antes alheias ao assunto. Hidrelétricas? Rio Xingu? Energia? São jovens, muitos deles, que buscam informações para um trabalho escolar ou de conclusão de curso. Estudantes de jornalismo ou recém-formados procuram entender as firulas do imbróglio chamado Belo Monte. Até nomes famosos estão se esforçando. Mulheres e homens, empresários, consultores, advogados, economistas. É uma imensidão de saberes e não saberes em torno dos diversos aspectos do projeto mais falado da história.

O amadurecimento dos usos da internet, a pesquisa, contribui com essa explosão de curiosidade.  O Youtube tem ajudado muito. Centenas de vídeos sobre Belo Monte estão disponíveis: as manifestações dos movimentos sociais, dos indígenas, matérias da grande mídia,  discursos inflamados de Lula e as propagandas da Eletronorte.  Pode-se dizer que o assunto está cercado e cada vez mais alguém lança uma nova dúvida que acaba despertando outros e mais outros criando uma verdadeira corrente.

É verdade, Belo Monte finalmente “caiu na boca do povo”!

3 comentários:

  1. tomara! estou aguardando isso faz tempo. Tem q ser rapido

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  2. Telma: o interesse continua : em breve comento o assunto "Política Suicida" relativo a diferença entre penalização de tarifas e subsidio de combustíveis, agora com tendência de agravar com entrada de térmicas para manter cheios os reservatórios do Sudeste e Nordeste(mesmo risco do ano passado.)
    O GRANDE ESPETÁTULO
    Há menos de 3 meses para as eleições é montado o palco onde vão desenrolar as audiências públicas do mega evento dos grandes planos decenais, continuação de outros: O lançamento do Pré-sal, das usinas Rio Madeira e licitação de Belo Monte. Você procura no Google “plano decenal” e aparecem sugestões de pelo menos 4: Educação, assistência, saúde e expansão do sistema energético. Concentrando neste último você encontra 700 mil páginas, das quais as dez primeiras mostram 80 apresentações praticamente iguais sobre o mesmo assunto: “o Grande Plano Decenal de energia”. Centenas de blogs, especialmente das agencias do governo, todos de uma pobreza franciscana, apenas enumeração de fatos relativos ao evento ou declarações de burocratas do governo acerca dos grandes números envolvidos:
    — O calhamaço tem mais de 800 páginas que, obviamente, ninguém vai ler.
    — São previstos gastos de cerca de 1 trilhão de Reais, concentrados na exploração de petróleo do Pré-sal.
    — Em número de participantes só perde para as grandes concentrações religiosas e mega- eventos de celebridades.
    — Se aberto ao grande público um estádio seria insuficiente, mas considerando o grande afluxo de interessados e a necessidade de restrições, o local escolhido é de um hotel, “adrede” preparado por promotores de grandes eventos.
    — Guardadas as proporções, chega a ofuscar os grandes planos quinzenais da antiga URSS, toda nomenclatura tupiniquim ali representada, tirante os representantes das grandes multinacionais de equipamentos e projetos.

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  3. Gostei do discurso, parabens Telma:
    uma explicação que fiquei devendo sobre a opção de termoelétricas no atual momento.

    CONDIÇOES DE MERCADO PARA O GAS
    Alem dos riscos inerentes a exploração em mar profundo o aproveitamento das reservas do pré-sal impõe o novo desafio de desenvolver tecnologia e mercado para o grande volume de gás decorrente da exploração que não pode simplesmente ser lançado diretamente na atmosfera ou ser queimado como se faz habitualmente enquanto o mercado não se estabelece.
    O petróleo — Como objetivo principal — poderá ser diretamente aproveitado em navios petroleiros e enviado como uma comodity de acesso garantido ao mercado. Mas, A conseqüência natural da exploração das reservas do Pré-sal na próxima década será uma super oferta de gás para o qual terá que ser feito um esforço para desenvolver mercado para esse produto.
    Enquanto o petróleo é uma comodity de fácil acesso ao mercado internacional, o gás encontra melhores condições no mercado doméstico, industrial e de energia. A lógica é semelhante à de uma indústria de rede como a da energia elétrica. O transporte por gasodutos até as indústrias e residências é mais barato e menos sujeito a riscos do que o transporte de energia elétrica que, por sua vez tem distribuição mais facilitada por redes de distribuição. Ambos são regidos por monopólios dos estados cobradores de ICM, constitucionalmente estabelecidos e que são operadas por empresa pública, sob supervisão de uma agência reguladora estadual.
    Pelo lado do consumo a maior parte do mercado industrial já foi convertida para gás e o transporte e distribuição já contam com uma super oferta de gasodutos constituindo uma malha do Sudeste/Sul e do Nordeste que oferece excepcional oportunidade para o suprimento de combustível às termoelétricas. Estas constituem o complemento natural das hidroelétricas do Sudeste bem como das termoelétricas de 1/2 período da Amazônia. As possibilidades são várias:
    1. Termoelétricas combinadas para diminuir consumo de carvão em antigas usinas (Candiota, Piratininga) e nas novas de cogeração das usinas de cana de açúcar e álcool.
    2. Substituição de chuveiros elétricos em futuras residências.
    3. Termoelétricas da Amazônia e do Sudeste.
    Termoelétricas a gás terão suprimento garantido pelo excedente da exploração do Pré-sal e Urucu e pela super oferta da malha de gasodutos interligados.
    Termoelétricas a gás constituem a melhor opção para o momento de crise que o mundo atravessa. São mais baratas não só pelo menor custo de capital relativamente às atuais hidroelétricas como pelo custo do combustível em super oferta. Do ponto de vista ambiental são menos danosas porque vão consumir o combustível que seria queimado de qualquer maneira nas plataformas de exploração.

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