Por Edilberto Sena*
Que coisa mais fora de moda! Como se Munduruku, Kaiapó, Xavante e outros povos só tivessem uma semana para serem lembrados; quando os Guarani do Mato Grosso do Sul nem mais terras possuem; como se os Arara e Juruna não estivessem ameaçados de serem expulsos do rio Xingu, por causa de Belo Monte. Por que só uma semana do índio?
O governo brasileiro os vê como obstáculos ao crescimento econômico do país. Chega até a blefar, acusado de violação dos direitos humanos pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Grileiros e exploradores de riquezas da floresta os vêem como inimigos a serem eliminados. Já professore(a)s de escolas do ensino fundamental, alienada(o)s gostam de pintar suas crianças de vermelho, vestindo-as com tangas e cocares no dia do índio.
Se alguém chegar a um filho da floresta e perguntar e perguntar quem ele é, certamente dirá que é Macuxi, Yanomami, ou Tirió. Não dirá que é brasileiro, ou que é índio. Também dirá que seus antepassados já viviam nas suas terras, desde antes da chegada do invasor estrangeiro. Mas a sociedade brasileira só recentemente passou a admitir os direitos aos povos nativos.
Só em 2007 o governo federal homologou a Terra Indígena Raposa Serra do Sol de modo contínuo, depois de longa luta em Roraima. Assim mesmo, com grandes críticas de invasores do agronegócio, de militares e políticos. Enquanto os povos Guarani do Mato Grosso do Sul até hoje vivem aprisionados em quarteirões, pois suas terras foram invadidas por fazendeiros e apoiadas pelos políticos. Ainda hoje há brasileiros que matam nativos para abocanhar ouro, esmeraldas e outras riquezas de suas terras.
Os povos da floresta não querem hidrelétricas, nem querem exploração de minérios. Eles querem o bem viver com a natureza, em paz. Os povos nativos não necessitam de uma semana do índio, mas de respeito diário a seus direitos. Não querem ser espetáculo exótico para os outros olharem com ar de quem vai ao zoológico.
*Padre Edilberto Sena, 68 anos, coordenador da Rádio Rural AM de Santarém, Pará
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