Telma Monteiro
Ontem (17/05) tive a infeliz idéia de acompanhar o evento que a Secretaria de Comunicação da Presidência da República resolveu fazer para mostrar Belo Monte aos jornalistas. Só consegui que meu estômago tolerasse uma pequena parte dele.
O representante da Norte Energia, Luiz Rufato, disse em resposta a um dos jornalistas que a usina só vai produzir quando o rio Xingu tiver água. Quando não tiver água suficiente para fornecer o mínimo acertado para a Volta Grande, a usina não vai gerar energia. Pelo menos foi isso que entendi. Mas como sou leiga no assunto, eu gostaria de levantar uma dúvida: as máquinas (turbinas) podem parar, assim sem mais nem menos, quando a água não for suficiente para acioná-las?
Outra resposta que achei muito interessante de Rufato foi sobre a colocação de réguas nas terras indígenas para que os índios monitorem a vazão do rio Xingu. Segundo ele, a pedido dos próprios. Interessante saber que se a vazão não estiver na medida certa, um indígena vai poder ligar para a Norte Energia e pedir para parar as máquinas e abrir as comportas. Essa nova estratégia de monitoramento e operação de uma usina que deve custar mais de R$ 30 bilhões, já deve ter sido usada em outros empreendimentos. Então, quem somos nós para questionar?
Perguntado sobre a área alagada pelos reservatórios de Belo Monte, outro representante da Norte Energia, Antonio Coimbra, fingiu desentendimento e desconhecimento do edital de licitação da Aneel. Os estudos mostram 516 km² e o edital mencionou 668 km². Mas, pelo visto, isso também não tem a mínima importância, já que Belo Monte vai salvar o Brasil de insuficiência de energia, em 2015!
Por falar nisso, um jornalista da Folha de SP perguntou se a Norte Energia se considerava pronta para receber a Licença de Instalação (LI) do Ibama. E a resposta de Antonio Coimbra foi, sim. Nem precisaram usar os R$ 100 milhões para atender todas as medidas prepatórias e condicionantes. Com os R$ 50 milhões despejados até agora (divulgado pela própria Norte Energia) teria sido possível cumprir todas as condicionantes. Coimbra garantiu que nenhuma condicionante foi desprezada. Não é, porém, o que entende o MPF que recomendou que o Ibama não concedesse a LI até que as condicionantes fossem cumpridas.
O pouco que vi deu o tom. Respostas insuficientes para os leigos e para os especialistas. Mentiras que os jornalistas pareceram aceitar como verdades, com excessão de Patricia Bonilha, da Rede Brasil. Os "especialistas" do governo parecem ter maior poder de persuasão.
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia ( MME), Altino Ventura, com seu discurso ultrapassado, também fez uma apresentação. Entre outras coisas ele afirmou que Belo Monte foi planejada para ficar pronta em 2013 e não em 2015. E não faltou a chantagem de que se Belo Monte não for construída o governo vai licitar mais termoelétricas poluentes.
Altino Ventura se recusa sistematicamente a considerar energia eólica, solar e biomassa como alternativas às hidrelétricas. Sobre programas de eficiência energética, apenas umas poucas palavras. Continua afirmando que todo o potencial hidrelétrico da Amazônia tem que ser totalmente aproveitado. Pobre Amazônia!
Hoje (18) saiu a notícia que a LI sairá na próxima sexta-feira. Técnicos do Ibama fizeram uma vistoria na região de Belo Monte entre os dias 12 e 14 de maio para elaborar o parecer técnico. Vistoria secreta, ao que tudo indica, sem a presença da comunidade, sem avisar o MPF e na companhia de representantes do consórcio e do Ministério do Planejamento.
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