segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Brasil medido em campos de futebol


"A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou na tarde desta terça-feira (5 abril de 2011) a desapropriação de 3,5 mil hectares de terras particulares – um hectare equivale a aproximadamente um campo de futebol – para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. A diretoria da agência declarou as terras como de “utilidade pública”. Fonte: G1 

O Brasil não pode continuar a ser um país onde campos de futebol são usados como unidade de medida de área. Quando se fala em desmatamento na Amazônia se fala em tantos campos de futebol. Quando se fala em reservatório de hidrelétricas se fala em tantos campos de futebol. Quando se fala em desapropriação de terras para construção de hidrelétrica se fala em tantos campos de futebol. Afinal nós brasileiros só podemos entender tamanho, extensão quando comparados a campos de futebol?

Telma Monteiro

Tenho resistido ao impulso de escrever, por puro desânimo. Escrever sobre as várias notícias que a midia produz todos os dias e que mostram indignidade. Indignidade guindada a uma potência imensurável. A indignidade que sujeita povos indígenas e comunidades no Brasil a uma forma de subvida. Essa é nossa realidade e é essa realidade que me policio para não difundir para não parecer pessimista.

Por quê? Talvez entendendo que falar mal do Brasil, ou de seus "administradores" seja uma forma de admitir o fracasso. Esse momento de "rei sol" entre os países está até ofuscando o brilho dos Estados Unidos da América, mas é um blefe. Pior é que a maioria da população ignora que os governos não investem no combate à violência, que a saúde nunca vai ser prioridade, que o uso dos agrotóxicos para matar as formigas nas plantações de eucaliptos dá câncer, que aqui tem miséria, que mães adolescentes estão abandonando seus filhos na rua e que a taxa de criminalidade entre os jovens é a mais alta jamais vista.

Mas estamos licitando o trem bala. Vamos sediar a copa do mundo e as Olimpíadas. E a sujeira vai para debaixo do tapete.

É esse o Brasil que o Lula prometeu e que a Dilma tenta ratificar? Esse Brasil está alienado dos seus maiores problemas, aqueles, que tentamos esconder de nós mesmos: o Brasil da impunidade, da banalização do crime e da corrupção. Onde está nossa memória? O Ministério dos Transportes é o escândalo do dia, da semana, do mês ou do ano?

Luto dia a dia contra um sentimento de frustração. Há aqueles que atacam quem critica esse governo e há os que criticam porque são atacados. Como se fosse possível admitir que um partido político, esteja ou não no poder, tenha a prerrogativa do certo ou errado. Não tem certo ou errado. Temos, sim, valores a serem seguidos e respeitados. Temos leis também.  Mas parece que respeitar direitos humanos, cumprir a legislação é ser visionário e uma anomalia.

Há algum componente pouco claro com o povo brasileiro. Ainda não consegui lancetar essa ferida purulenta.  Uns usam o poder constituido para satisfazer grandes ambições e outros, os da oposição, se sujeitam a contestar apenas para reservar seu espaço futuro no poder. Como o lote no céu. Acho que um vírus muito sério afetou a ética.

O destino das pessoas está sendo decidido baseado em campos de futebol? A sobrevivência das próximas gerações é mero sofisma para determinar a tal da sustentabilidade. Quem fala em sustentabilidade?  Aliás, sustentabilidade não passa de uma palavra no título dos relatórios dos grandes bancos ou de grandes empresas. Sustentabilidade virou algo sem personalidade que perdeu o significado no tempo.

As redes sociais não são anônimas, são formadas por pessoas com identidade. Então porque elas mostram uma paralisia, uma visão atrofiada da realidade? Quem vivencia o dia a dia no imenso deserto das relações humanas e cibernéticas neste país acaba desconfiando que somos mesmo um blefe. Um blefe que pretende se tornar a quinta maior economia do mundo sem ter resolvido os problemas mais básicos para a sobrevivência de suas comunidades isoladas, suas florestas, seus povos indígenas e seus urbanóides.

A maioria desses urbanóides que vive na megalópole  acha que a Amazônia é um potencial a ser explorado indefinidamente e pode ser sacrificada  para manter seu  status quo. Mal se pode argumentar sobre energias alternativas - solar ou eólica - sem que alguém contraponha que elas não suprirão a demanda futura. E lá vem o discurso de como o Brasil é afortunado, pois barrar os rios é uma forma de gerar energia limpa e barata. Limpa para quem e barata como? Com custos escamoteados que a praxe do licenciamento aprova.
Desenvolver e adotar novas tecnologias deveriam ser objetivos do Estado em respeito aos seus cidadãos. Cobrar isso do Estado deveria ser um dever desses mesmos cidadãos.  O Brasil está perdendo mais uma vez seu direito ao lugar nobre entre os países emergentes.  

Um comentário:

  1. Toda luta vale a pena e quando se luta como você, pela causa que luta, está mais do que justificada o apoio de parte da sociedade. Não desanime, ou desanime mas não pare !

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