por Regina Scharf, De lá pra cá
Imagem da cidade de Chongqing em 2002, antes de ser inundada pela represa da usina de Três Gargantas. Foto de Ray_from_LA / Flickr |
O diário Christian Science Monitor acaba de publicar uma interessante matéria que mostra como muitos dos reassentados chineses – num universo de 1, 3 milhão de pessoas – terão que se mudar novamente, porque suas casas e seu sustento estão ameaçados devido aos impactos da usina, concluída em 2006 no rio Yangtze.
Em março, numa guinada de atitude, o Conselho de Estado chinês admitiu que a maior hidrelétrica do mundo causou problemas sociais e ambientais e poderia levar a um desastre geológico. As águas do Yangtsé estão cada vez mais poluídas – o fluxo da água a montante é lento e não consegue arrastar o lixo – e os deslizamentos de terra perto da barragem tornaram-se mais frequentes.
Segundo a agência de notícias Xinhua, o enorme volume de água envolvido – a barragem tem 185 metros – provoca tremores periódicos (a imprensa também indica que o reservatório está sobre uma falha geológica). Além disso, boa parte dos assentados estariam com dificuldades para se sustentar por terem recebido lotes pequenos em áreas montanhosa e com solo de baixa qualidade.
Na opinião de Lars Skov Andersen, hidrologista que trabalha na recuperação da bacia do Yangtse, uma iniciativa financiada pela União Européia, “Três Gargantas não foi adequadamente planejada – então agora ela terá de ser remediada”. Isto deve incluir uma nova leva de reassentamentos, que poderá custar US$ 15 bilhões – metade do custo de implantação da hidrelétrica, segundo declaração de Andersen ao diário.
Uma série de reportagens produzidas pelo NPR (o serviço público de rádio norte-americano) em 2008 dá um balanço eloquente dos contras escondidos atrás dos prós de Três Gargantas – e dos custos que ainda poderão advir. O repórter enviado pela NPR à região fala nas algas que se espalharam pelas águas do Yangtzé, matando peixes e plantas, no quase desaparecimento da espécie local de golfinho, e nos possíveis vínculos da obra com o agravamento das secas daquela região.
Para os chineses, admitir os problemas da sua maior obra de engenharia, sonhada pelo grande timoneiro Mao-tsé-tung em pessoa, foi com certeza um avanço. Agora, avanço mesmo será descobrir um bolso fundo o bastante para tirar os bilhões que poderão minimizar os impactos de Três Gargantas.
Fonte: Página 22
E, de novo, como em todos os casos de hidrelétricos no mundo e na história, não foi que os chineses não foram avisados de todos estes problemas. Era assim no caso da usina de Assouan (Egito), Tucurui, Balbina, Estreito, e é assim no caso de Belo Monte. Porque os governos continuam surdos e cegos!?!? Quando aprendem que não se pode manipular a Mãe Terra nesta escala?
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