Reportagem produzida pelo Núcleo Amigos da Terra Brasil mostra casos de destruição social e ambiental que empresas transacionais provocam nos Estados do Pará e Maranhão, onde está concentrada mais de 80% da bauxita explorada no Brasil. O alumínio é uma das principais commodities brasileiras e o país é o 6º produtor mundial do metal, atrás da China, Rússia, Canadá, Austrália e EUA. O Brasil possui a terceira maior jazida de bauxita do mundo e é o quarto maior produtor mundial de alumina. (Carta Maior)
Por
Bruna Engel, do Núcleo Amigos da Terra Brasil
Violação
aos direitos humanos e degradação da natureza andam juntos quando o tema é
territórios ocupados pelas corporações de mineração e produção de alumínio. Tão
útil e adaptado aos modos de vida moderno, por ser leve, macio e resistente,
esse metal esconde um processo industrial penoso e degradante. A reportagem
cinematográfica publicada aqui, produzida pelo Núcleo Amigos da Terra Brasil e
realizada por André de Oliveira (Coletivo Catarse), revela casos de destruição
social e ambiental que empresas transacionais provocam nos Estados do Pará e
Maranhão, onde está concentrada mais de 80% da bauxita explorada no Brasil.
Ao
percorrer todas as etapas do processo industrial (mineração da bauxita,
transporte por mineroduto, refino da alumina e a redução desta para obtenção do
alumínio), a equipe de repórteres flagra diversas ameaças aos povos
tradicionais e aos trabalhadores da indústria, e dá voz aos afetados. São
populações rurais de baixa renda e sem assistência dos poderes públicos – com
exceção do Ministério Público Federal, que ainda exige o cumprimento das leis e
busca assegurar as reparações aos povos afetados.
A
maioria das comunidades, até que a destruição comece, desconhece as
estratégicas de inserção e apropriação de territórios exercidos pelas
corporações mineiras, assim como seus direitos e a legislação que rege as
relações comerciais do setor no Brasil. Só depois dos danos causados é que
passam a se organizar e lutar por melhores condições de vida. O mesmo acontece
com os trabalhadores, que aliciados por oportunidades de trabalho não imaginam
que estão sendo pagos para adoecerem e terem reduzido o tempo de vida laboral.
A
pressão do capital
Com o avassalador ingresso
das indústrias, a região de mineração passa a depender economicamente do
empreendimento. O processo anterior à mina, de expropriação e compra de terras,
gera especulação imobiliária inflacionando o valor da terra. Esse processo
incentiva pequenos agricultores a venderem suas terras, seduzidos pelas
quantias oferecidas (de grande monta para a realidade deles, mas de baixo
impacto para o mercado imobiliário), e engrossar as periferias dessas pequenas
cidades, com aumento da violência, prostituição, analfabetismo, entre outros
graves problemas sociais.
Quando as empresas se
instalam sobre essas áreas fatalmente cessa a atividade de extração sustentável
dos recursos na floresta, porque extrativismo e mineração são atividades
excludentes. A degradação ambiental provocada pela instalação e operação das
fábricas também resulta em impactos na economia local: a contaminação de
igarapés, lagos e rios por lama vermelha (rejeito tóxico da limpeza da bauxita)
provoca mortandade de peixes e destrói a possibilidade de pesca artesanal; com
a poluição pelo ar, as árvores frutíferas próximo das fábricas não dão frutos,
os açaizais (principal fonte de renda das famílias camponesas da região) sofrem
queda de produtividade, assim como outras culturas tradicionais das regiões.
Hidrelétricas
e finaciamento público
A cadeia produtiva do
alumínio é eletrointensiva, ou seja, necessita de grande quantidade de energia
elétrica e de água para se viabilizar. Para a expansão da produção do alumínio,
o governo federal vem promovendo a construção de novas barragens na Amazônia,
entre elas Belo Monte, que cederá parte de sua energia para as indústrias
eletrointensivas. Além disso, bancos públicos, como o BNDES, assumiram papel
fundamental para o fortalecimento da cadeia produtiva.
O financiamento público,
aliado ao reaquecimento do mercado internacional, impulsionou a expansão das
fábricas da Alunorte/Albrás, Alumar e CBA, incluindo o financiamento de novos
projetos de refinaria em Barcarena, maior pólo do setor, a 50 km de Belém. E as
fábricas não se expandem sozinhas, junto com elas vem a abertura de novas
lavras, a construção de novas usinas hidrelétricas e termelétricas, duplicação
de ferrovias, minerodutos e etc. Ou seja, a degradação ambiental que foi
registrada nesta reportagem cinematográfica.
A
força da grana
A exportação do setor
metalúrgico, pelos dados mais atualizados, de 2009, correspondeu a 2,1% da
balança comercial. Por sua vez, as exportações influenciam em 2% do PIB
nacional. O alumínio é uma das principais commodities brasileiras e o país é o
6º produtor mundial do metal, atrás da China, Rússia, Canadá, Austrália e
Estados Unidos. O Brasil possui a terceira maior jazida de bauxita do mundo e é
o quarto maior produtor mundial de alumina. Contando toda a cadeia, foram
produzidas 26074,4 mil toneladas de bauxita, 8625,1 mil toneladas de alumina e
1690 mil toneladas de alumínio.
Em termos de negócio, a
produção brasileira perde muito em valor agregado, pois só produz produtos
primários, concentrando somente os processos mais agressivos ao meio ambiente.
Exportamos, no máximo, lingotes de alumínio. Quando chegam nos outros países,
para as etapas seguintes de transformação do metal, o alumínio para a valer
quatro vezes mais.
(*)
O Núcleo Amigos da Terra Brasil, em contato com organizações e movimentos
locais, foi registrar esses conflitos com ribeirinhos para avaliar os impactos
sociais e ambientais que a indústria do alumínio provoca desde à década de 80
no Brasil. Para isso, organizou visitas técnicas em pelo menos um local de cada
etapa da cadeia produtiva. Essa reportagem, acompanha a pesquisa de campo e
revela os casos de ameaças aos povos tradicionais e aos trabalhadores da
indústria, dando voz aos afetados.
(**)
Para ver a versão em inglês do documentário, clique aqui.
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