Fonte da imagem: Instituto Lula |
Ela [Dilma Rousseff] chegou a dizer que essas pessoas contrárias à construção das hidrelétricas vivem num estado de "fantasia".
Ao se referir à participação do Brasil na Rio+20, a conferência das Nações Unidas que será realizada em junho, na capital do Rio de Janeiro, a presidente lembrou aos que estavam na reunião que o mundo real não trata de tema "absurdamente etéreo ou fantasioso". "Ninguém numa conferência dessas também aceita, me desculpem, discutir a fantasia. Ela não tem espaço para a fantasia. (Fonte: Estado)
Telma Monteiro
O Brasil é o terceiro maior
emissor de gases de efeito estufa (GEEs), perdendo apenas da China e dos EUA. O
crescimento econômico, para países em desenvolvimento, custa caro e vem
acompanhado também do aumento das emissões e acúmulo de GEEs na atmosfera, que
geram impactos socioambientais. Clima com oscilações bruscas de temperatura,
alteração dos níveis de precipitação são alguns dos desafios que é preciso
enfrentar no século XXI.
O setor elétrico brasileiro é
responsável por parte das emissões de GEEs, seja pela liberação do metano nos
reservatórios das hidrelétricas, seja pela alteração do regime dos rios
barrados, seja pelas emissões das termelétricas ou ainda por induzir a atividade
humana de migração, ocupação e desmatamento de áreas de floresta. Por outro
lado, as alterações do clima interferem nas vazões dos rios, na regulação das
cheias dos reservatórios, na segurança das populações no entorno das
hidrelétricas e na eficiência da geração.
As mudanças climáticas podem
afetar, também, as crianças e a saúde mental das pessoas. Esse alerta foi
publicado recentemente pelo Instituto do Clima, uma organização australiana de
pesquisas que concluiu: "Os danos causados pelas mudanças climáticas não
são só físicos. O passado recente mostra que os eventos climáticos extremos
trazem também sérios riscos para a saúde pública, inclusive a saúde mental e o
bem-estar das comunidades"[1].
Eventos extremos, desastres,
danos ambientais e sociais, secas, inundações, ondas de calor, tornam vulneráveis
adultos e principalmente crianças, diz o estudo. Os efeitos das mudanças climáticas já são
nítidos quando se trata de observar o estresse presente nas relações
socioambientais. Populações tradicionais, em alguns casos, já são reconhecidas
como verdadeiros refugiados climáticos.
Em uma matéria bastante
contundente escrita por Julio Godoy, da Inter Press Service (IPS) - A Mudança
Climática por trás da Fome[2]
- registra que uma seca severa pode ter causado a morte de pelo menos 30
mil crianças e atinge um total de 12 milhões de pessoas na Somália. Esses fenômenos e as variações da temperatura no
oceano podem afetar regiões como o Chifre da África. Temporadas de chuvas
abundantes alternadas com secas e altas temperaturas já são cada vez mais frequentes
nos noticiários internacionais e chamam a atenção para os efeitos nefastos na economia
global.
Jean-Cyril Dagorn,
encarregado dos programas de meio ambiente e justiça econômica do ramo francês
da organização humanitária Oxfam, apontou que a seca é extrema e provoca uma catástrofe
humanitária na Somália. Alertou que “Chuvas
torrenciais sobre terra extremamente seca arrasariam os solos mais férteis,
tornando ainda mais dramática a crise de alimentos”.
Em 2010 o Fórum Nacional de
Secretários de Estado para Assuntos de Energia (FNSE) entregou aos candidatos
que concorreram às eleições presidenciais no Brasil o documento intitulado Descentralização e participação –
planejamento e gestão do setor energético brasileiro[3]
com o objetivo de contribuir com a formulação do planejamento energético
nacional no programa do governo que tomou posse em 2011.
O documento conclui que a
centralização do planejamento energético não leva em consideração as
potencialidades energéticas regionais, daí a necessidade de uma revisão desse
processo. A recomendação é que energia deve ser uma política de agências
reguladoras de Estado e não de Governo e deve ser fiscalizada de forma
independente. (Fórum Nacional de Secretários de Estado -
FNSE, 2010)
Por outro lado, mesmo se não destacado no documento, será fundamental democratizar
as agências reguladoras, garantindo participação e controle da sociedade, de
modo especial dos cidadãos que pagam a conta mais alta pela energia.
Outro relatório[4],
do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA), publicado em fevereiro
de 2011, considera ser necessário investimento de 2% do PIB mundial a ser
aplicado em um novo modelo econômico para combater a pobreza e gerar um
crescimento genuinamente limpo e eficiente.
O percentual equivaleria a US$ 1,3 trilhão anuais.
Esse investimento teria o
objetivo de transformar a economia em uma economia de baixo carbono em setores-chave, para
valorizar uma economia natural. O relatório entende que esse seria o caminho
para combater a pobreza. O setor energético se beneficiaria com o investimento
na redução de CO2 e com a adoção de programas de eficiência energética, além de
possibilitar o controle do aumento da demanda global por energia até 2050. (PNUMA,
2011)
Com as mudanças climáticas
globais em curso ficam evidentes as oscilações de temperatura e dos índices de
precipitação. Já não há mais dúvida de que populações, ecossistemas e
biodiversidade sofrerão duramente as conseqüências. É o que diz o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) Economia das Mudanças Climáticas[5].
Como
essas mudanças afetarão o Brasil, em especial a Amazônia, e com que
intensidade, é o desafio a ser superado para se projetar os modelos de
desenvolvimento da economia. Essas questões não discutidas em profundidade concorrem
para aumentar os índices de pobreza e desigualdade social, conferindo às
populações afetadas maior vulnerabilidade às mudanças climáticas.
A
Rio + 20 vai priorizar a Amazônia ou a sua preservação também é fantasiosa?
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