Em todo o país data é lembrada com o ajuizamento, pelo MPF, de 14 ações civis públicas visando garantir terras que povos indígenas tradicionalmente ocupam
O Ministério Público Federal (MPF) no Pará entrou na Justiça neste 19 de abril, Dia do Índio, com ações para garantir o direito à terra a povos indígenas da região do Médio Xingu, impactados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, e ao povo Tembé, no nordeste do Estado. A iniciativa faz parte de uma mobilização nacional que o MPF promove desde o início do mês. Em todo o país o MPF está ajuizando, nesta sexta-feira, um total de 14 ações civis públicas visando garantir terras que povos indígenas tradicionalmente ocupam. Além disso, estão sendo expedidas recomendações para instituições públicas e empresas privadas (veja detalhes abaixo).
No caso das Terras Indígenas (TIs) dos povos do Médio Xingu, a ação judicial
trata do descumprimento das medidas de proteção das TIs afetadas pela
hidrelétrica de Belo Monte. As medidas deveriam ter sido providenciadas pelos
responsáveis pelo empreendimento, mas, como foram descumpridas, "submetem
hoje os povos indígenas do Médio Xingu à situação limítrofe de um
etnocídio", denuncia o MPF.
Assinada pelos procuradores da República Thaís Santi Cardoso da Silva, Meliza Alves
Barbosa, Ubiratan Cazetta e Felício Pontes Jr, a ação pede à Justiça, entre
outros requerimentos, a suspensão da licença de instalação da hidrelétrica até
que sejam executadas as medidas indispensáveis à proteção das TIs, como a
construção de 21 unidades de proteção territorial e a contratação e capacitação
de agentes para atuar nessas unidades.
A ação relacionada aos direitos dos Tembé foi ajuizada em favor da demarcação
das TIs de Jeju e Areal, localizadas em Santa Maria do Pará, no nordeste do
Estado. O MPF pede à Justiça que obrigue a União e a Fundação Nacional do Índio
(Funai) a realizar a demarcação das terras e a desintrusão de eventuais
posseiros que se encontrem nas áreas. O procurador da República Felício Pontes
Jr. solicitou, ainda, que União e Funai sejam condenadas a pagar indenização de
R$ 19 milhões aos indígenas por danos morais coletivos.
Ainda em relação à proteção de TIs, no Pará o MPF comemora esta semana vitória
obtida no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). A partir de recurso
dos procuradores da República Fernando Antônio Alves de Oliveira Jr., Felipe
Bogado e Luiz Antonio Miranda Amorim Silva, o TRF-1 suspendeu a Operação
Tapajós, operação militar e policial promovida a mando do governo federal na
região da TI Munduruku, onde está planejada a usina hidrelétrica São Luís do
Tapajós, no oeste do Estado. A área, que já foi oficialmente reconhecida como
indígena, aguarda demarcação.
No Pará o MPF também está levando esses temas para as salas de aula. Os
procuradores da República Felipe Bogado e Melina Alves Tostes divulgaram para
as secretarias de educação de todos os municípios das regiões de Santarém e
Marabá a cartilha sobre direitos indígenas produzida pela 6ª Câmara de
Coordenação e Revisão do MPF.
No país - Desde o início do mês, o MPF vem realizando mobilização
nacional (confira em http://goo.gl/htc3P)
em defesa dos territórios indígenas, trabalho que culmina neste 19 de abril,
quando é comemorado o Dia do Índio. Na tarde desta sexta-feira, o MPF também
promove audiência pública para discutir o tema. O evento está sendo realizado
no auditório Juscelino Kubitschek da Procuradoria Geral da República, em
Brasília (detalhes em http://goo.gl/6Eaw9).
No evento, está prevista a participação de representantes de aproximadamente 70
povos indígenas, além de representantes do Ministério da Justiça, da Funai, da
Câmara dos Deputados, da Advocacia-Geral da União, da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, da Secretaria Nacional da Articulação
Social da Presidência da República e do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra).
Pelo MPF, participam a vice-procuradora-geral da República e coordenadora da 6ª
Câmara, Deborah Duprat, os subprocuradores-gerais da República Luciano Mariz
Maia e Maria Elaine Menezes de Farias (ambos membros da 6ª Câmara) e as
procuradoras da República Márcia Brandão Zollinger, Natália Lourenço Soares e
Walquiria Imamura Picoli.
Contexto - Embora a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 231,
garanta aos povos indígenas a posse das terras tradicionalmente ocupadas por
eles, ainda há muito o que se fazer para que a legislação seja cumprida. A
ideia, muitas vezes difundida por aqueles contrários aos direitos indígenas, de
que 'há muita terra para pouco índio' decorre justamente do desconhecimento das
distintas lógicas espaciais dos povos indígenas, principalmente daqueles que
vivem em áreas da floresta amazônica. É fruto também da ocultação da realidade
fundiária da maior parte dos povos indígenas das demais regiões brasileiras,
onde as dimensões das terras que lhes foram reconhecidas são, em não poucos
casos, insuficientes para sua reprodução física e cultural.
Também é muito importante sabermos que a demora do Estado para regularizar
terras indígenas deixa tal parte da população vulnerável. Segundo o Conselho
Indigenista Missionário, as terras que continuam sem regularização final, mesmo
as registradas e declaradas, são mais expostas a invasões, ocupações,
desmatamento e exploração ilegal de recursos naturais.
Confira detalhes sobre as ações civis públicas ajuizadas e as recomendações expedidas neste Dia do Índio em outros Estados:
Confira detalhes sobre as ações civis públicas ajuizadas e as recomendações expedidas neste Dia do Índio em outros Estados:
Amapá - Em ação civil pública, o MPF no Amapá pede, em caráter de
urgência, a anulação e o cancelamento de qualquer cadastro ou autorização –
mesmo que de mero estudo minerário – para futura exploração em terras
indígenas. O MPF também quer que seja mantida a proibição de lavras garimpeira
e minerária nessas áreas. Atualmente, mais de 500 requerimentos para pesquisa e
exploração de minério em terras indígenas do Amapá tramitam no Departamento
Nacional de Produção Mineral. Com a decisão favorável, o MPF espera que sejam
anulados títulos minerários nominados e inominados emitidos pela autarquia para
essas áreas. Dessa forma, a instituição pretende evitar a lesão e assegurar os
direitos dos índios.
Amazonas - o MPF ingressou com uma ação civil pública na Justiça Federal
para que a União e a Fundação Nacional do Índio (Funai) providenciem
imediatamente a realização de estudos de revisão dos limites da terra indígena
Waimiri Atroari. Em 2008, o MPF já havia expedido recomendação solicitando à
Funai e à União os estudos de revisão por conta de parte da área habitada
tradicionalmente pelos indígenas ter sido ocupada pelas instalações da usina
hidrelétrica de Balbina.
“Após o decurso de mais de quatro anos desde que a Funai manifestou interesse em realizar os estudos recomendados, a terra indígena Waimiri Atroari e, consequentemente, o povo que a habita, vem suportando os encargos das mais variadas e gradativas pressões, inerentes ao desenvolvimento econômico que incide sobre a região amazônica”, declarou o procurador da República Julio José Araujo Junior.
“Após o decurso de mais de quatro anos desde que a Funai manifestou interesse em realizar os estudos recomendados, a terra indígena Waimiri Atroari e, consequentemente, o povo que a habita, vem suportando os encargos das mais variadas e gradativas pressões, inerentes ao desenvolvimento econômico que incide sobre a região amazônica”, declarou o procurador da República Julio José Araujo Junior.
Em outras duas ações civis públicas, o MPF aciona a Justiça para que a Funai
conclua os processos demarcatórios das Terras Indígenas Ponciano e Murutinga,
do povo indígena Mura, localizadas no município de Autazes. Desde o ano
passado, os estudos de identificação das áreas estão finalizados, mas a Funai
não encaminhou os processos ao Ministério da Justiça.
O MPF recomendou ainda que o município de Autazes suspenda a cobrança do
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) no interior da Terra Indígena
Pantaleão, cujo processo demarcatório está em andamento, na fase de análise do
relatório de fundamentação antropológica pela Funai.
Com o objetivo de garantir a atenção de saúde a comunidades indígenas ainda não atendidas pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Manaus, o MPF recomendou ao Dsei e à Coordenação Regional da Funai na cidade que analisem a questão, identificando as comunidades ainda não atendidas, e elaborem plano de atendimento às regiões identificadas, no prazo máximo de três meses.
Com o objetivo de garantir a atenção de saúde a comunidades indígenas ainda não atendidas pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Manaus, o MPF recomendou ao Dsei e à Coordenação Regional da Funai na cidade que analisem a questão, identificando as comunidades ainda não atendidas, e elaborem plano de atendimento às regiões identificadas, no prazo máximo de três meses.
Bahia - o MPF ajuizou três ações contra a União e a Funai, buscando a
conclusão de processos de demarcação de terras e a relocação de comunidades não
indígenas que vivem em territórios já demarcados. As ações são propostas pelo
procurador da República Leandro Mitidieri, que atua no município de Paulo
Afonso, e favorecem as comunidades Tumbalalá (Abaré), Truká-Tupã (Paulo
Afonso), Xukuru-Kariri de Quixaba (Glória), Pankararé do Brejo do Burgo
(Glória) e Kaimbé Massacará (Euclides da Cunha) e Atikum (Rodelas). Para ele,
os problemas relacionados às terras indígenas devem ter solução prioritária,
uma vez que, sem território demarcado, os indígenas têm enorme dificuldade de
acesso a serviços públicos, principalmente à saúde e à educação. “As
comunidades indígenas do nordeste sofreram o primeiro impacto da colonização e
são algumas das mais desagregadas do Brasil. Os problemas que diversos índios
sofrem agora no país, com a criação de hidrelétricas que inundam suas terras,
foram vivenciados pelos índios do norte da Bahia na década de 1980, e o
processo de relocação destas comunidades nunca foi concluído”, explica
Mitidieri.
Maranhão - No Maranhão, os procuradores da República Natália Lourenço
Soares e Douglas Guilherme Fernandes, da Procuradoria da República no Município
de Imperatriz (PRM/Imperatriz), expediram recomendação para que seja finalizado
o processo de desintrusão da terra indígena Krikati e propuseram ação civil
pública contra a Eletronorte. Neste último caso, pedem para que o componente
indígena seja levado em consideração na renovação do licenciamento ambiental de
torres que passam em território indígena e e também a execução de liminar
concedida pela Justiça Federal que determina a inclusão do componente indígena
nas medidas de segurança do uso da MA-280. A estrada corta 32 quilômetros de
terra indígena, colocando em risco a segurança da comunidade.
Para a procuradora da República Natália Lourenço Soares, a movimentação em prol
do Dia do Índio significa mais do que demarcar terras, buscando a segurança
desses povos. “Essas ações são importantes para garantir aos indígenas o
usufruto exclusivo de suas terras. Mas a questão vai além, porque proteger os
territórios indígenas também traz reflexos para o meio ambiente e preservação
dessas áreas, além de evitar conflitos entre os índios e pessoas estranhas que
ocupam o território deles”, afirma.
Mato Grosso – o MPF propôs ação civil pública para que a Funai adote as
medidas administrativas necessárias para concluir a demarcação da Terra
Indígena Apiaká do Pontal e Isolados, de ocupação tradicional dos Apiaká,
Munduruku e isolados, localizada no município de Apiacás, no extremo norte do
Estado, na divisa com o Amazonas e Pará.
Os estudos de identificação e delimitação da terra indígena foram aprovados em
2011, porém não foram encaminhados para que o Ministério da Justiça,
responsável pela edição da portaria de declaração dos limites da terra
indígena, providencie a demarcação física, homologação e registro em Cartório.
De acordo com a procuradora da República Marcia Brandão Zollinger, "a
morosidade do procedimento, paralisado há praticamente um ano e sete meses, sem
remessa ao ministro da Justiça, tem ocasionado aos indígenas, além dos danos
inerentes à inexistência do território demarcado, dificuldades ligadas à sua
subsistência". A demora imposta ao povo Apiaká e Isolados em ver
reconhecido seu território de origem perdura desde 1999, ou seja, há mais de 14
anos.
Pernambuco - duas ações civis públicas serão ajuizadas pela
PRM/Serra Talhada para garantir a demarcação de terras tradicionalmente
ocupadas por comunidades indígenas no estado. Um dos processos refere-se à
comunidade Pipipã, integrada por cerca de 1,3 mil indígenas, que ocupam área no
município de Floresta. A responsável pelo caso é a procuradora da República Maria
Marília Oliveira de Moura. A outra ação, sob responsabilidade da procuradora da
República Sílvia Regina Pontes Lopes, tem como alvo a situação da comunidade
Pankará, que vive na Serra do Arapuá, em Carnaubeira da Penha. Nos dois casos,
o MPF busca decisão judicial que determine a conclusão do processo demarcatório
das terras indígenas, com estabelecimento de prazo pela Justiça Federal.
Uma terceira ação civil pública, de autoria da procuradora da República Sílvia
Lopes, tem por objetivo garantir a conclusão do processo de desapropriação por
interesse social da Ilha de Tapera, para criação de reserva indígena que
abrigue os dissidentes da etnia Truká. Conforme laudos antropológicos
analisados pelo MPF, divergência entre grupos que antes viviam juntos na área
já demarcada para os trukás, na Ilha de Assunção, inviabiliza a convivência dos
indígenas na mesma terra.
A PRM/Serra Talhada vai expedir também recomendação ao Incra para que seja
concluído o processo de desintrusão da área indígena Atikum, que faz limite com
a Comunidade Quilombola de Conceição da Crioulas, no prazo de um ano. Conforme
apurado pela procuradora da República Sílvia Pontes, a presença de pessoas não
integrantes da comunidade indígena no local vem prejudicando o pleno usufruto
da terra pelos atikums. O MPF recomendará ainda a Funai, Incra e Fundação
Cultural Palmares a formação de grupo técnico para apurar as necessidades das
populações indígenas e quilombolas vizinhas.
Rondônia - o MPF encaminhou recomendação à Funai para que conclua o
procedimento de revisão de demarcação da terra indígena Rio Negro Ocaia
(município de Guajará-Mirim, da etnia Wari), cujos estudos técnicos foram
aprovados pelo Ministério da Justiça por meio da Portaria nº 185 de 14 de
fevereiro de 2011. Além disso, o órgão tem 16 inquéritos civis públicos
(investigações) abertos sobre questões relativas a áreas pleiteadas pelos
indígenas e ainda não demarcadas, pretensões de revisões territoriais e
invasões em territórios tradicionalmente ocupados. Veja detalhes neste link: www.prro.mpf.gov.br/conteudo.php?acao=diversosLerPublicacao&id=830.
Roraima – o MPF expediu recomendação à superintendente do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para que
seja feita a fiscalização e vistoria in loco das fazendas situadas em áreas
invadidas na Terra Indígena Yanomami, na região do Rio Ajarani. Durante essa
semana em que se comemora o Dia do Índio, o Ibama deu início às fiscalizações.
O MPF quer que sejam feitas autuações de todos os crimes ambientais e infrações
administrativas constatados na região do Ajarani, em virtude das invasões
ilegais, e seja feita aferição do dano ambiental na área fiscalizada, para
posterior reparação pelos responsáveis.
Além disso, o MPF expediu recomendação à Funai para que seja feita confecção de
plano de retirada de ocupantes e bens das fazendas localizadas na região do
Ajarani, dentro da Terra Indígena Yanomami. O órgão quer ainda que a Funai
proceda ao cumprimento do plano de retirada, ultimando a desintrusão da área.
Nesta sexta, o MPF também vai expedir recomendação à empresa OI para instalação
de orelhões nas terras indígenas de Roraima. Ontem, promoveu o Debate sobre
Mineração em Terras Indígenas, com a participação de representantes
indígenas, da Universidade Federal, do Departamento de Produção Mineral e do
Instituto Socioambiental. Além disso, promoveu exposição fotográfica aberta ao
público intitulada “Taai: um olhar sobre os indígenas de Roraima”.
Santa Catarina - a Procuradoria da República em Joinville expediu duas
recomendações para a Funai, já que há um retardo injustificado no início do
processo de identificação e demarcação das aldeias Yakã Porã e Yvy Dju/Reta. A
situação de Yakã Porã, localizada na Estrada Brüsttein, em Garuva, e Yvy
Dju/Reta, situada nas proximidades da BR 280, em São Francisco do Sul, vem
sendo acompanhada pelo MPF desde final dos anos 90.
Já a Procuradoria da República em Chapecó obteve na justiça decisão favorável
para ação civil pública que condena a Funai a adquirir 500 hectares de terras
destinadas aos índios kaingangs da aldeia Kondá. Na quarta-feira desta semana,
a PR/SC também realizou vistoria na polêmica área da etnia guarani, com sede no
Morro dos Cavalos, em Palhoça. A visita foi um pedido do Ministério Público e
foi acompanhada por representantes da Funai, da Justiça Federal, da Fundação do
Meio Ambiente (Fatma), da Polícia Federal e das famílias de não índios. O local
é alvo de muitas disputas, apesar da demarcação das terras indígenas ter sido
publicada em Diário Oficial em 18 de dezembro de 2002.
Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
(91) 3299-0148 / 3299-0177
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