Foto: Economia.uol |
Nós
somos indígenas Munduruku, Xipaya, Kayapó, Arara e Tupinambá. Nós vivemos do
rio e da floresta e somos contra destruírem os dois. Vocês já nos conhecem,mas
agora somos mais.
O
seu governo disse que se nós saíssemos do canteiro, nós seríamos ouvidos. Nós
saímos pacificamente – e evitamos que vocês passassem muita vergonha nos
tirando à força daqui. Mesmo assim, nós não fomos atendidos. O governo não nos
recebeu. Nós chamamos pelo ministro Gilberto Carvalho e ele não veio.
Esperar
e chamar não servem para nada. Então nós ocupamos mais uma vez o seu canteiro
de obras. Não queríamos estar de volta no seu deserto de buracos e concreto.
Não temos nenhum prazer em sair das nossas casas nas nossas terras e pendurar
redes nos seus prédios. Mas, como não vir? Se não viermos, nós vamos perder
nossa terra.
Nós
queremos a suspensão dos estudos e da construção das barragens que inundam os
nossos territórios, que cortam a floresta no meio, que matam os peixes e
espantam os animais, que abrem o rio e a terra para a mineração devoradora. Que
trazem mais empresas, mais madeireiros, mais conflitos, mais prostituição, mais
drogas, mais doenças, mais violência.
Nós
exigimos sermos consultados previamente sobre essas construções, porque é um
direito nosso garantido pela Constituição e por tratados internacionais. Isso
não foi feito aqui em Belo Monte, não foi feito em Teles Pires e não está sendo
feito no Tapajós. Não é possível que todos vocês vão continuar repetindo que
nós indígenas fomos consultados. Todo mundo sabe que isso não é verdade.
A
partir de agora o governo tem que parar de dizer mentiras em notas e
entrevistas. E de nos tratar como crianças, ingênuas, tuteladas, irresponsáveis
e manipuladas. Nós somos nós e o governo precisa lidar com isso. E não minta
para a imprensa que estamos brigando com os trabalhadores: eles são solidários
a nossa causa! Nós escrevemos uma carta para eles ontem!.Aqui no canteiro nós
jogamos bola juntos todos os dias. Quando saímos da outra vez, uma trabalhadora
a quem demos muitos colares e pulseiras nos disse: “eu vou sentir saudades”.
Nós
temos o apoio de muitos parentes nessa luta. Temos o apoio dos indígenas de
todo o Xingu. Temos o apoio dos Kayapó. Nós temos o apoio dos Tupinambá. Dos
Guajajara. Dos Apinajé, dos Xerente, dos Krahô, Tapuia, Karajá-Xambioá,
Krahô-Kanela, Avá-Canoero, Javaé, Kanela do Tocantins e Guarani. E a lista está
crescendo. Temos o apoio de toda a sociedade nacional e internacional e isso
também incomoda bastante a vocês, que estão sozinhos com seus financiadores de
campanha e empresas interessadas em crateras e dinheiro.
Nós
ocupamos de novo no seu canteiro – e quantas vezes será preciso fazer isso até
que a sua própria lei seja cumprida? Quantos interditos proibitórios, multas e
reintegrações de posse vão custar até que nós sejamos ouvidos? Quantas balas de
borracha, bombas e sprays de pimenta vocês pretendem gastar até que vocês
assumam que estão errados? Ou vocês vão assassinar de novo? Quantos índios mais
vocês vão matar além de nosso parente Adenilson Munduruku, da aldeia Teles
Pires, simplesmente porque não queremos barragem?
E
não mande a Força Nacional para negociar por vocês. Venham vocês mesmos.
Queremos que a Dilma venha falar conosco.
Canteiro
de obras Belo Monte, Altamira, 27 de maio de 2013