sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Usinas no rio Tapajós: desconstruindo mentiras do governo - Parte 2


Por Telma Monteiro

Hoje fiquei muito indignada com a matéria da Folha de SP (Governo quer leiloar neste ano a 1ª 'usina-plataforma', no Pará) sobre as usinas planejadas para serem construídas no rio Tapajós. Lamentável, também, é que em uma lauda de informações quase que totalmente questionáveis, há lá no finalzinho, uma fala do meu amigo Celio Bermann que, tenho certeza, disse muito mais do que foi publicado.

Tanto a Folha de SP como os demais veículos chamados de grande mídia, que eu chamo de mídia alienadora, perdem uma grande oportunidade de mostrar aos leitores a verdade. Não é preciso dar opinião, já que os jornalistas, em sua maioria, se esquivam disso em nome da neutralidade. Porém, é preciso mostrar sempre com igual isenção, e equidade de espaço, os argumentos de especialistas.

Nesse caso específico, a Folha mostrou apenas o que diz o governo e seus apaniguados. Sabidamente Mario Zimmermann e Maurício Tolmasquim são instrumentos de um setor caquético, mal administrado, sem transparência e que se tornou uma verdadeira caixa preta inexpugnável. Eles fazem coro com o secretário do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, que despejou mentiras em outra publicação e que foi objeto da minha nota anterior (Parte I).

Agora vem esse texto tendencioso que transmite informações no mínimo desqualificadas. Por exemplo, se refere a reflorestar o local depois da construção da hidrelétrica São Luiz do Tapajós. Como será possível essa mágica? Vão desmanchar a obra? Plantar no reservatório? Talvez usem uma varinha de condão.

Outra besteria fenomenal é tratar da região como se fosse uma floresta intransponível. Alguém tem ideia da logística necessária para transferir materiais para construir uma hidrelétrica? Milhares de toneladas de rocha têm que ser retiradas, milhões de metros cúbicos de concreto têm que ser despejados, milhares de toneladas de aço, desmatamento que empilha milhões de metros cúbicos de madeira, escavações de milhões de metros cúbicos de terra que têm que ir para um bota-fora, e os equipamentos como turbinas que pesam milhares de toneladas cada uma, virão penduradas em helicópteros? E as indústrias que precisam ser construídas nas proximidades? Dá para vizualisar tamanha interferência?

Não vou nem dissertar sobre os impactos ambientais provocados pelos desvios dos rios para fazer ensecadeiras que costumam matar milhares de peixes, acabar com a qualidade da água ou da inundação das margens que dizimam a fauna e destroem a flora, o ecossistema.

Tem mais ainda, e acho que é o ponto chave: as comunidades que estão na beira do rio Tapajós e que terão que ser compulsoriamente retiradas. Elas irão para onde, para a cidade? E os impactos nas terras indígenas? Ninguém menciona.  E tem outra inverdade que é dizer que o número de funcionários depois que a usina entrar em operação será reduzido. Nunca vi tamanha cara de pau, pois normalmente esse número já é o menor possível para operar as usinas. Hoje com a eficiência é tudo automatizado, computadorizado e monitorado à distância. Quando há necessidade de manutenção dos equipamentos e turbinas, a mão de obra especializada é fornecida por empresas terceirizadas.

Não tem melhor negócio no mundo do que operar uma hidrelétrica, pois o rio está ali correndo eternamente, o empreendimento já construído e as turbinas funcionando 24 horas por dia e não tem custo de matéria prima nenhum. É só faturamento nos próximos 35 anos, já que a energia foi vendida antecipadamente, financiada pelo BNDES e com juros subsidiados!

Pois é, estão tentando enganar a opinião pública de forma deslavada. Tem mais ainda, as estradas que existem na região, como informa a matéria, na verdade terão que ser alargadas, melhoradas, para dar vazão a tudo isso. E não significa que vão induzir à ocupação? Outro ponto, esse não foi abordado, é com respeito às linhas de transmissão para transportar a futura energia (se essa locura sair do papel) que, dada a criatividade atual do governo, podem ser aéreas com balões de gás para não desmatar. 

Mas, uma mensagem clara foi deixada por Celio Bermann sobre os custos que poderiam advir dessa tal ideia de usina plataforma. Lógico é, que para dar uma satisfação à sociedade, o governo vai mesmo inventar uma forma de fazer essa tal invenção aparecer, mesmo que não dê certo no futuro. No entanto, tudo vai sair mesmo é dos nossos bolsos.

Usina plataforma? Só mesmo em alto mar! 

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