Por Telma Monteiro
Sim,
é verdade, eu estive com eles. O ano 2000 teve eleições municipais. Eu era
filiada ao PT no diretório do meu município e acabei sendo escolhida
coordenadora de campanha do candidato a prefeito.
Nessa
época o PT criou grupos de estudos para visitar alguns municípios governados
pelo partido e que, sob a ótica do diretório regional, eram bem sucedidos.
Santo André, situado na Grande São Paulo, sob a administração de Celso Daniel
era um deles. O candidato que eu representava e eu fomos escalados para
participar de uma imersão e conhecer o município e a gestão de Celso Daniel.
Chegamos
em Santo André bem cedo, na prefeitura municipal. De lá fomos conduzidos para
os ônibus que iriam levar as várias delegações de candidatos a conhecer a
gestão de sucesso de Celso Daniel e sua equipe. Sentamo-nos nos primeiros
bancos e qual não foi nossa surpresa ao perceber que estaríamos acompanhados
bem de perto pelo próprio Celso Daniel, por nosso (então) ídolo, Lula, e alguns
membros de sua equipe.
Lula
era o presidente de honra do PT. Criticava a distribuição de cestas básicas, o
assistencialismo, o voto não ideológico, a despolitização do povo. Lula se
preparava para as próximas eleições presidenciais de 2002 e a administração de
Celso Daniel em Santo André era a sua menina dos olhos. Em 18 de janeiro de
2002 Celso Daniel foi sequestrado e morto e, triste coincidência, seu corpo foi
encontrado bem aqui no nosso município. Ele era o coordenador de campanha de
Lula.
O
grupo no ônibus era brindado com as histórias de como esse e aquele projeto do
prefeito tinha tornado o município de Santo André um exemplo. Fomos a parques
públicos, às periferias onde os moradores corriam para reverenciar a comitiva e
jornalistas acompanhavam. Nada escapou à visita, nem o domo magistral no centro
de Santo André que nitidamente era o orgulho de Celso Daniel. Lula se
desmanchava em elogios e nós deslumbramos. Aquilo era o nosso partido, era isso
que queríamos para o nosso município. Eu votaria no Lula em 2002.
Bem,
finalmente chegou a hora do almoço e Celso Daniel nos avisou que estávamos indo
para o restaurante. Simples e direto. Mas foi aí que tive o primeiro baque que
jamais me sairia da memória e nem das futuras conjecturas. Lula estava em pé na
frente do ônibus, junto com Celso Daniel, quando ajeitou a gravata, abaixou-se
um pouco para olhar para o para-brisa da frente e disse “espera aí Celso, eu só
vou almoçar se for no melhor restaurante da cidade, já passei da fase de comida
de quilo”. Fez-se silêncio e então todos caíram na gargalhada e Celso Daniel
respondeu “não se preocupe nós já chegamos ao melhor restaurante da cidade”. O
ônibus estacionou, descemos todos e realmente estávamos no, então, melhor
restaurante da cidade. Bufê farto com (jamais esquecerei) lagosta, camarões,
caviar, carnes, peixes e até caviar.
Foi
um banquetaço como diria um falecido amigo meu. O restaurante estava fechado
para a comitiva. Lula e Celso Daniel e entourage
sentaram-se no centro de uma das grandes mesas. Whisky, vinhos, vodcas e
cervejas corriam soltos. Nós dois, meu candidato e eu, representantes de um
pequeno município sem nenhuma importância estratégica para o partido, dado à sua
pobreza econômica, fomos parar na ponta da última mesa.
Almoço
terminado eu me levantei, dirigi-me aos anfitriões, mais precisamente ao Lula,
e me apresentei, bem como o município que eu representava. Nós não tínhamos um
único tostão para a campanha e o diretório regional havia se recusado a nos
ajudar. Expliquei ao meu, então, ídolo, pedindo sua interferência no sentido de
nos conseguir material para campanha, nem mencionei recursos financeiros, mas
apenas panfletos, santinhos, faixas e cartazes. Ele prontamente se dispôs a
ajudar chamou alguém “ô Baiano, veja aí o que esse pessoal precisa”. Virou-me
as costas e continuou bebendo e gargalhando com o pessoal da mesa. Já estava “alto”.
Por
intuição, eu sabia que a ajuda nunca viria. Realmente não veio. Nós perdemos a
eleição e, decepcionada, no ano seguinte desfiliei-me do PT. Lula e sua empáfia
nunca saíram da minha memória. Para ele, já em 2 000, comer comida de quilo era
ser reduzido ao comum dos mortais, ao cidadão trabalhador, ao herói que
enfrenta tudo que o brasileiro vem enfrentado nesses tempos bicudos. Para mim
não é difícil entender tudo o que descobri depois, durante minha militância
contra as usinas do Madeira. A urgência em aprovar as hidrelétricas para a
Odebrecht e Furnas e, acredito, que agora com a Lava Jato a justiça finalmente será
feita. Espero que Lula coma as quentinhas na cadeia, longe do tríplex tipo “Quinta
Avenida” e do sítio a la “Donald
Trump”, e aprenda a ser um cidadão comum.
Não achei na Internet nenhuma foto de Lula e Celso Daniel juntos (NA)
Para entender como Lula ajudou a viabilizar as usinas do Madeira com a Odebrecht e Furnas clique AQUI