Telma Monteiro
"Belo Monte é um projeto de 30 anos, não é um projeto de agora. Belo Monte levou muito tempo sendo discutida, foi muita gente que discutiu, se fazia projeto, se não fazia projeto, e nós conseguimos dar a Belo Monte um tratamento, diria, qualificado envolvendo todo o segmento da sociedade num debate", afirmou. De acordo com Lula, abandonar um potencial hídrico de, aproximadamente, 260 mil megawatts para começar a usar termoelétrica a óleo diesel será um "movimento insano", contra toda a ação que se faz no planeta. (Extraído: Lula defende a construção da usina de Belo Monte)
Visita de Lula a Altamira em 2010. Foto: Portal N1News |
Em 2010, Lula esteve em Altamira para
“lançar” Belo Monte. Estava acompanhado de autoridades e políticos em campanha.
Políticos adoram grandes obras. Principalmente superfaturadas. Campanhas
eleitorais no Brasil costumavam receber apoio financeiro de empreiteiras e de
concessionárias de serviços públicos. Em especial do setor energético (veja-se
a Petrobras e o que se descobriu com a Lava Jato) onde se desvendou o funcionamento
do esquema de grupos de poder nacionais e transnacionais unidos aos partidos
políticos e autoridades do executivo e legislativo para dilapidar o nosso
patrimônio.
Para Lula, nós nunca
passamos de medíocres e desinformados porque não conhecíamos o projeto da
hidrelétrica de Belo Monte. Naquela ocasião, em Altamira, Lula resolveu
compartilhar suas “experiências”. Disse que quando era jovem protestou contra a
usina de Itaipu. Que acreditou nas fantasias de que Itaipu iria alterar o
clima da região, causar terremoto, que o peso da água do reservatório mudaria o
eixo da Terra e que a Argentina seria inundada. Tirando a história idiota da
mudança do eixo da Terra, os demais impactos aconteceram e acontecem no caso de
grandes hidrelétricas. Se ele considerou fantasias é por pura falta de
conhecimento dos estudos de cientistas e pesquisadores. Ignorou solenemente
todas as informações disponíveis.
Chamou-nos, os
declarados contrários à construção de Belo Monte, de mal informados. Ignorou que entre os desinformados estavam a
equipe técnica do Ibama que analisou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de
Belo Monte; os técnicos e procuradores do Ministério Público Federal (MPF) que
se debruçaram por meses sobre o calhamaço de informações do processo; dos
especialistas e pesquisadores que emitiram seus pareceres; do juiz da Vara de
Altamira, Antonio Carlos Campelo, que acompanhava o caso desde a primeira ação
ajuizada; das organizações da sociedade civil que contam com pessoal habilitado
em questões ambientais; dos movimentos sociais da região do Xingu que sempre viveram
o dia a dia do rio; e principalmente, dos indígenas que conhecem profundamente
o comportamento do ecossistema do qual suas vidas dependem.
Nem é preciso dizer
que a infinita falta de conhecimento de Lula sempre atrapalhou o seu já parco
discernimento. Basta fazer um retrospecto da baboseira que pautou seus
discursos e até recentemente o “pronunciamento” descabido e distorcido sobre as
provas apresentadas pela força tarefa da Lava Jato. Portanto, quem não conhecia
e jamais procurou conhecer o projeto de Belo Monte e nunca teve a humildade para
ouvir a sociedade foi ele, Lula. E é por
isso que Belo Monte está lá. O monstro engoliu o rio Xingu e cospe, agora, a
podridão da insensatez de um presidente medíocre e perdulário.
Em Altamira, ao
exaltar Belo Monte, Lula se jactou de histórias, falsas experiências e
afirmações que empolgaram uma plateia de cabos eleitorais e bajuladores de
plantão, dele e da então governadora do Pará. A retórica farsesca continuou
sendo o seu velho e hoje gasto artifício para enfrentar a realidade do fracasso
do seu projeto político.
Nunca deixou de
mencionar e se vangloriar de ter chegado aonde chegou sem que fosse preciso ter
estudado. Não surpreende que tenha desprezado as conclusões de pesquisadores e
especialistas. Ele não as leu. Pensando bem, quando Lula nos chamou de
desinformados poderia estar se referindo à falta de outras informações sobre
Belo Monte, aquelas que não estiveram disponíveis. Nesse caso estávamos
mesmo desinformados. Entre as informações que Lula disse ter e afirmou que,
nós pobres mortais, não tínhamos, bem poderia estar a estratégia de utilização
dos recursos de energia para aumentar sua influência na política regional. Ou a
pretensão de ser lembrado no futuro como um estadista que encontrou o ideal da
política energética na exploração da Amazônia com a remoção compulsória de
populações ribeirinhas e indígenas de suas terras imemoriais. Objetivo: transformar
o Brasil na quinta economia global.
O setor privado
brasileiro nunca quis investir em obras com viabilidade econômica duvidosa,
idealizadas por estatais hipertróficas, como se viu no imbróglio do leilão de
Belo Monte. Não sendo possível obter taxas de retorno compatíveis com os altos
custos sociais e ambientais, deixaram o investimento, o financiamento e os
riscos para o Estado que era rico o suficiente. Lula garantia. Como garantiu a
sangria da Petrobras.
Claramente, esse
megalômano esteve incentivando falsas parcerias público-privadas, como no caso
de Belo Monte, onde quem bancou e correu (ainda corre) riscos é o Estado e os
fundos de pensão. Lula planejara voltar em 2015 para continuar sua obra. Mas
a bomba da decadência da economia, com o pus emergindo das feridas do quase
cadáver putrefato da sua base política no Congresso atacada pelo cancro da
corrupção, ameaçava explodir no seu colo. Então ele deixou para Dilma o grã finale e achou que voltaria para “salvar”
a Pátria em 2018.
A Lava Jato que está
extirpando o câncer que assolou a Petrobras está quase acabando. Espero que
comece logo a Lava Jato II para desvendar a podridão na Eletrobras.
Este texto foi originalmente escrito em 2010 e reescrito agora com alterações e atualizações. (NA)
Muito bom, Telma!
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