Telma Monteiro
O acordo do governo
brasileiro com a França incluiu a construção de quatro submarinos convencionais
utilizando a já obsoleta tecnologia Scorpéne* e de um submarino de propulsão
nuclear. A tecnologia ultrapassada do Scorpéne não é mais utilizada nem pela própria
Marinha Francesa.
Numa rápida
pesquisa na Internet é possível descobrir as informações sobre o acordo firmado
entre Lula e Sarkozi e sacramentado em 7 de setembro, que vai além da
transferência da tecnologia de submarinos. Ele inclui a construção e operação
de uma base naval e de um estaleiro na Baia de Sepetiba, no Rio de Janeiro,
pelo Consórcio Baia de Sepetiba formado por Odebrecht (50%), a estatal francesa
Direction des Constructions Navales Services (DCNS) (49%) e a União (1%).
O pacote francês
inclui a transferência da tecnologia de projeto do casco
para o submarino nuclear brasileiro, que será montado também pela Odebrecht e
DCNS; daí a necessidade de uma base naval e de um
estaleiro. A Odebrecht mais uma vez evidencia sua estreita relação com o governo
de Lula e Dilma Rousseff em concessões de energia, obras de infra-estrutura do
Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e, agora, em estratégias de defesa
nacional.
Uma mal explicada
política de proteção às reservas petrolíferas do pré-sal está sendo usada como
pretexto para justificar todo esse aparato. Pior, numa clara demonstração
megalômana de busca do poder, o presidente Lula pretende transformar o Brasil
em potência e líder mundial. Nas entrelinhas do acordo com a França está a
pretensão de ingresso do Brasil no clube seleto da independência nuclear.
Não é brincadeira
não! Na contramão da história aos moldes do “Brasil Grande” o governo pretende
construir e futuramente vender submarinos com propulsão nuclear. E isso irá
custar aos cofres do tesouro 6,8 bilhões de euros, cerca de 22 bilhões de
reais, dez vezes o preço proposto pela empresa concorrente alemã. Esse é o
pacote da Marinha, embora a compra de helicópteros e caças franceses esteja em
primeiro plano nos discursos do governo e na mídia. É cortina de fumaça.
O governo
brasileiro está fechando o negócio bilionário mesmo com sobrepreço. Lula não
consultou ninguém e o Senado já aprovou os recursos do tesouro necessários para
concretizar o acordo, sem maiores problemas. O pacote proposto por Sarkozi traz
como brinde a promessa do presidente francês de ajudar o Brasil a obter um
assento no Conselho de Segurança da ONU e a participar de um futuro G-7
ampliado.
O estaleiro e a
base naval de 980 mil metros quadrados tem o custo estimado em 1,8 bilhão de
euros, cerca de 4 bilhões de reais, e nem estava nos planos da Marinha. A
Odebrecht foi “escolhida” pelos franceses numa manobra que isentou o governo
brasileiro e a Marinha de possíveis questionamentos futuros sobre a ausência de
processo licitatório.
O ministro da
Defesa, Nelson Jobim é a figura chave dessa transação. Até agora não há
explicações sobre os critérios e parâmetros de escolha que determinaram e
orientaram o documento final do acordo. Convencional ou nuclear, quantos ou
quanto, quando ou como? E a pergunta mais importante: por quê?
São muitas as
teorias conspiratórias que pululam no Ministério da Defesa sobre as ameaças às
reservas petrolíferas do pré-sal. Seriam cômicas, se não fossem trágicas. Uma
apresentação de Jobim, no Ministério da Defesa, que explica a aquisição dos
submarinos, mostra slides de recortes de jornais e revistas com notícias da
Guerra das Malvinas, em 1982. Isso mesmo, as matérias revelam como os ingleses
foram eficientes graças ao uso de submarinos contra os argentinos!
Parece que o
ministro tem conhecimento de ameaças e espera um ataque às riquezas do pré-sal.
Ou será que Sarkozi precisa de uma base estratégica na América do Sul, em
especial no Brasil, que faz divisa com a Guiana Francesa, considerada
território francês?(TM)
Fontes: Perspectiva
Política /
Ministério da Defesa
*Denúncia feita por mim em 2009