Gado apreendido dentro da Flona Jamanxim, durante a operação Boi Pirata. Nelson Feitosa/Ibama |
Crônica
do dia, por Telma Monteiro
São
Paulo é uma grande cidade. Quente. Já foi São Paulo da garoa. O ar parece uma
cortina aquecida. Sair da mata para um mar de prédios áridos e tristes, fez-me
refletir sobre algumas notícias recentes. Tem políticos que pretendem aprovar
no Congresso Nacional um projeto de lei para revisar a criação, por Dilma
Rousseff, de cinco unidades de conservação. Outra medida diz respeito à redução
da Floresta Nacional do Jamanxim, na região do Tapajós, pela Medida Provisória
de dezembro de 2016.
Estão
tentando acabar com o pouco ou quase nada que Dilma fez em favor da
biodiversidade. Será que o Brasil está fadado a regredir? Vejamos o que não
regride: a sujeira da corrupção e das ruas; o descaso com a saúde pública; o descaso
com a educação; o descaso com as populações indígenas; o descaso com os biomas
brasileiros e com os rios. Só para citar alguns. A lista é muito grande.
Segundo
o Imazon, a Flona do Jamanxim já perdeu 57% ou, para ilustrar melhor, o
equivalente a duas vezes o tamanho da área
metropolitana de São Paulo. Você entendeu agora o porquê de eu ligar a cidade
de São Paulo ao despropósito de reduzir as florestas brasileiras?
Reduzir
áreas de preservação é como voltar no tempo, para antes da Rio 92. Quem ainda
se lembra da Rio 92? E da Agenda 21 Global? O programa de ação, assinado por 179 países, para promover o
tal “desenvolvimento sustentável”. Ou “desenvolvimento que satisfaz as necessidades
presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades”.
A Resolução 44/228 da ONU, que convocou a Conferência RIO-92, reconhece que “pobreza e degradação ambiental se encontram intimamente relacionadas” e, “se há uma síntese possível para este final de século, pode-se caracterizá-la como o esgotamento de um estilo de desenvolvimento que se mostrou ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”.
As
“cortadas” nas unidades de conservação estão sendo feitas, que fique claro, sob
a mais rigorosa legalidade: as alterações são por emendas parlamentares.
Parlamentares que representam o povo no Congresso.
O Brasil verde está sendo reduzido drasticamente. E todos os
dias rasgamos os compromissos da Rio 92. Grandes e pequenas cidades do Brasil refletem
o exemplo de São Paulo, incham, sob a desculpa do crescimento, na mesma
proporção da destruição das matas que as circundam. Descaso com as populações
que buscam moradia decente. Nada é planejado e tudo é improvisado. O uso do
solo é administrado como as florestas: há leis para protegê-las, mas não se
cumpre.
As consequências estão aí no cotidiano de
chuvas torrenciais e localizadas cada vez mais impactantes na vida de milhões
de brasileiros. A culpa é de São Pedro?
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