segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Amazônia: a pilhagem continua


Processos minerários na Reserva de Cobre e seus Associados (RENCA)
(Retângulo rosa é a área da RENCA) Fonte: Sigmine. Edição Telma Monteiro
Por Telma Monteiro

"A riqueza subterrânea não explorada é a guardiã da outra riqueza, essa na superfície, a biodiversidade da Amazônia." (Telma Monteiro)
Levei um bom tempo para deglutir mais um crime contra a Amazônia. Desta vez pelo governo de plantão, sob a batuta de Temer, Rodrigo Maia e quiçá um tal de Fufuca. Quando você acha que não vai se surpreender com mais nada, acontece uma novidade que nunca é boa. A primeira analogia que me veio foi estupro. Liberar a Reserva Nacional de Cobre e Associados (RENCA), entre o Pará e o Amapá seria o mesmo que estuprar a Natureza na sua versão mais perfeita.

Entendo que o termo pode parecer muito forte, mas há que se chacoalhar a sociedade brasileira, essa alienada, em que vivemos atualmente. Aqueles que se manifestaram nas redes sociais, gritando contra a Portaria do Ministério de Minas e Energia e contra o famigerado Decreto de Temer, são, infelizmente, muito poucos. Aí Gisele, a bela, apareceu. Sua voz percorreu o mundo e o governo brasileiro, acuado, cedeu. Por 120 dias. Para discutir com a sociedade. Com quem? Você que está acompanhando essa possível mutilação, acredita?

Assisti gente inteligente, acadêmicos, jornalistas, especialistas, até ex- presidente do ICMBIO falando ou escrevendo que acabar com a RENCA seria uma espécie de redenção, um salvo conduto em defesa da biodiversidade da Amazônia. Mineradoras e garimpos clandestinos de ouro, pistas de pouso camufladas, estradas desenhadas na floresta impotente, poderiam ser controlados e desapareceriam com o desbloqueio da RENCA. Querem dizer que desbloquear a reserva é para impedir ilegalidades e dar espaço para as “legalidades” que costumam destruir o meio ambiente. 

Samarco, uma joint venture entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, MG. Os responsáveis pela Samarco conseguiram, em alguma instância do nosso judiciário, se safar da garantia que teriam que pagar. Diante disso, pergunto se já não ficou bastante claro como as mineradoras, sejam elas brasileiras ou grandes conglomerados internacionais, não são confiáveis. Seus sites são verdadeiras pérolas de promessas de desenvolvimento, preservação, recuperação e sustentabilidade. A Samarco foi criada em 1977 e o rompimento da barragem de Bento Rodrigues não foi seu primeiro desastre. Há uma sequência deles que causaram enormes danos socioambientais onde a Samarco atuou e que ainda não foram compensados.

Como explicar que a Amazônia estaria “protegida” com a extinção da RENCA? Nem vou entrar na descrição de quantas mineradoras estariam invadindo legal e ilegalmente a área da reserva desbloqueada.

Um comentário:

  1. Os que apoiam esta barbárie e nós que somos contra, estudamos todos nas mesmas cartilhas que vieram sendo escritas desde o iluminismo. Outros paradigmas existiam e sempre houve uma bifurcação, uma escolha a ser feita e apesar de inúmeros protestos e batalhas, ele sempre venceu, e quando derrotado se escondeu e renasceu, o capitalismo.Todo este processo tem que ser entendido para sabermos onde devemos mexer e acionar as variáveis de um novo paradigma que já está batendo a nossa porta.Fernandez


    ResponderExcluir

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China Imagem: Portal Lubes Telma Monteiro, para o Correio da C...