Processos minerários na Reserva de Cobre e seus Associados (RENCA) (Retângulo rosa é a área da RENCA) Fonte: Sigmine. Edição Telma Monteiro |
Por Telma Monteiro
"A riqueza subterrânea não explorada é a guardiã da outra riqueza, essa na superfície, a biodiversidade da Amazônia." (Telma Monteiro)
Levei
um bom tempo para deglutir mais um crime contra a Amazônia. Desta vez pelo
governo de plantão, sob a batuta de Temer, Rodrigo Maia e quiçá um tal de
Fufuca. Quando você acha que não vai se surpreender com mais nada, acontece uma
novidade que nunca é boa. A primeira analogia que me veio foi estupro. Liberar
a Reserva Nacional de Cobre e Associados (RENCA), entre o Pará e o Amapá seria o
mesmo que estuprar a Natureza na sua versão mais perfeita.
Entendo
que o termo pode parecer muito forte, mas há que se chacoalhar a sociedade
brasileira, essa alienada, em que vivemos atualmente. Aqueles que se
manifestaram nas redes sociais, gritando contra a Portaria do Ministério de
Minas e Energia e contra o famigerado Decreto de Temer, são, infelizmente, muito
poucos. Aí Gisele, a bela, apareceu. Sua voz percorreu o mundo e o governo
brasileiro, acuado, cedeu. Por 120 dias. Para discutir com a sociedade. Com
quem? Você que está acompanhando essa possível mutilação, acredita?
Assisti
gente inteligente, acadêmicos, jornalistas, especialistas, até ex- presidente
do ICMBIO falando ou escrevendo que acabar com a RENCA seria uma espécie de
redenção, um salvo conduto em defesa da biodiversidade da Amazônia. Mineradoras
e garimpos clandestinos de ouro, pistas de pouso camufladas, estradas
desenhadas na floresta impotente, poderiam ser controlados e desapareceriam com
o desbloqueio da RENCA. Querem dizer que desbloquear a reserva é para impedir
ilegalidades e dar espaço para as “legalidades” que costumam destruir o meio
ambiente.
Samarco, uma joint venture entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton,
destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, MG. Os
responsáveis pela Samarco conseguiram, em alguma instância do nosso judiciário,
se safar da garantia que teriam que pagar. Diante disso, pergunto se já não
ficou bastante claro como as mineradoras, sejam elas brasileiras ou grandes
conglomerados internacionais, não são confiáveis. Seus sites são verdadeiras
pérolas de promessas de desenvolvimento, preservação, recuperação e
sustentabilidade. A Samarco foi criada em 1977 e o rompimento da barragem de
Bento Rodrigues não foi seu primeiro desastre. Há uma sequência deles que
causaram enormes danos socioambientais onde a Samarco atuou e que ainda não foram
compensados.
Como
explicar que a Amazônia estaria “protegida” com a extinção da RENCA? Nem vou
entrar na descrição de quantas mineradoras estariam invadindo legal e
ilegalmente a área da reserva desbloqueada.
Os que apoiam esta barbárie e nós que somos contra, estudamos todos nas mesmas cartilhas que vieram sendo escritas desde o iluminismo. Outros paradigmas existiam e sempre houve uma bifurcação, uma escolha a ser feita e apesar de inúmeros protestos e batalhas, ele sempre venceu, e quando derrotado se escondeu e renasceu, o capitalismo.Todo este processo tem que ser entendido para sabermos onde devemos mexer e acionar as variáveis de um novo paradigma que já está batendo a nossa porta.Fernandez
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