Traçado da Ferrogrão ou EF 170 - Terras Indígenas e Unidades de Conservação Fonte: Mongabay |
A calada da noite, em Brasília, é a mãe que pare decisões insanas do Congresso Nacional. (Telma Monteiro)
Por Telma Monteiro
Só quem acompanha
diuturnamente esse arremedo de desenvolvimento pretendido pelos últimos três governos
brasileiros consegue entender a dinâmica da destruição da Amazônia. Para aquele
que não acompanha o dia a dia e só vê fragmentos aqui e ali despejados por
jornalistas falsamente perplexos, nunca vai captar a verdade.
A TV Globo se esmera em
demonstrar, em matérias sobre a Natureza, uma profundidade de lâmina d’água sobre
a biodiversidade da
Amazônia. Pura falta de respeito.
Veja-se a Renca, aquela linha imaginária na forma de quadrilátero que
congelou, em 1984, uma riqueza imensa de ouro e outros minérios, alguns
trilhões de Reais, de 42 milhões de hectares, divididos entre o Amapá e o Pará.
Uma Portaria do MME tentou desbloquear a Renca, para sua exploração, em que a principal interessada é a Vale. A sociedade se mobilizou, alguns artistas “globais” e
internacionais aproveitaram os palcos do Rock In Rio 2017 para incentivar o público a
“salvar” a Amazônia.
Temer, para evitar
maior desgaste, apareceu, então, com um decreto dizendo que não era bem assim.
Só que é e sempre será assim. A poeira vai baixar e a Renca será desbloqueada
num momento em que estivermos fragilizados por outros incontáveis problemas tão
importantes como esse. A calada da noite em Brasília é a mãe que pare decisões insanas do Congresso Nacional. Veja a MP 795, batizada MP do Trilhão.
O caso da Renca foi,
até agora, o último imbróglio mobilizador em defesa da Amazônia. Só que antes
tivemos outros, como as hidrelétricas nos rios Madeira, Teles Pires, Xingu, todas na Amazônia e que a atingiram duramente. E a bacia do rio Tapajós também está ameaçada por seis hidrelétricas. Unidades de Conservação
foram reduzidas, terras indígenas afetadas, biodiversidade destruída, lençóis
freáticos contaminados, populações compulsoriamente removidas de seus habitats,
sazonalidades alteradas, igarapés contaminados, diminuição da pesca de
subsistência. A mobilização foi quase nenhuma, desde 2003, fora os
ambientalistas, ativistas, algumas Ongs e acadêmicos. Belo Monte conseguiu um
pouco mais de visibilidade. Mas está aí, infelizmente.
A questão da mineradora
canadense Belo Sun Mining, projeto para minerar 50 toneladas de ouro, só para
começar, ao lado das obras da hidrelétrica Belo Monte e na divisa da TI Paquiçamba,
na Volta Grande de Xingu, também quase passou em brancas nuvens pela mídia. É mais um exemplo. Licenciada pelo governo do Estado do Pará e com desconhecimento quase nulo por parte da
opinião pública. Nem mereceu espaço “global” ou engajamento consistente internacional.
Como o mal nunca tem
fim, estamos prestes a encarar mais uma ameaça na Amazônia. Já escrevi sobre a questão do Parque Nacional do Jamanxim que sofreu alteração. Agora já sabemos que é para viabilizar a Ferrogrão, entre outras coisas. O governo pretende licitar a Ferrogrão, em 2018, para aumentar o lucro do agronegócio na Amazônia Legal e
impactar, novamente, 19 terras indígenas e unidades de conservação. Grandes empresas internacionais e nacionais já se compõem em consórcios para arrematar uma obra de R$ 12,5 bilhões. O governo já se movimenta para financiar, como sempre.
A estrada de
ferro de 1.442 km vai seguir paralela à BR 163 que já atravessa o Parque Nacional
do Jamanxim e levou à ocupação ilegal, comércio de madeira ilegal e grilagem na região. Mas a alteração dos limites do Parque Nacional do Jamanxim deve "legalizar" tudo. Além da ferrovia para escoar os grãos do norte do Mato Grosso, estão previstos a construção de 54 pátios de carga e descarga e como se não bastasse, a BR
163 será totalmente recuperada.
Todos os detalhes de mais essa afronta à Amazônia fica para a Parte 2 desta
pesquisa.
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