sexta-feira, 18 de outubro de 2019

“Foder o povo”

Imagem: Veja
Por Telma Monteiro


No áudio vazado do delegado Waldir (PSL), quando ele estava absolutamente enraivecido com a puxada de tapete, tirando a possibilidade de implosão do Bolsonaro e os demais detalhes sobre “o áudio” não explicado, apenas uma coisa me chocou. Foi ouvir que quando ele, Bolsonaro, quis aprovar a reforma da Previdência para "foder o povo" (não necessariamente nessa ordem) ligou para ele, Delegado Waldir. Lógico que ele votou a favor da reforma da Previdência que vai “foder o povo”. E todos os outros que apertaram o sim na Câmara dos Deputados.

Aí fiquei pensando que o “foder o povo” deve ser uma expressão muito usada e consumada nos escaninhos do poder atual. Afinal estão “fodendo o povo” diariamente, seja pela falta de políticas públicas, seja pela falta de cumprimento das leis ambientais, seja pela retirada de dinheiro da educação e da saúde, seja pelo descaso com o vazamento de óleo no litoral do Nordeste, seja pelas queimadas no anunciado dia do fogo na Amazônia, seja no projeto em discussão nas comissões do Congresso que pretende liberar a mineração em terras indígenas, seja no desaparecimento do Queiroz, seja na questão das milícias, seja no apontar e atirar nos inocentes, seja na própria reforma da Previdência, seja no tráfico de drogas em voos oficiais, seja na ascensão da família Bolsonaro ao reinado do Brasil.

Reli o que escrevi acima e cheguei à conclusão que ainda faltou muita coisa para mencionar as formas como o governo Bolsonaro está “fodendo o povo”. Mas, tudo bem, quem for ler esta crônica vai se lembrar de outras tantas formas que têm sido usadas para “foder o povo”.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Carta dos caciques Munduruku: um libelo de um povo em perigo


 
Chefes Munduruku, Itaituba, Pará - Imagem Telma Monteiro
Preâmbulo, por Telma Monteiro
Já escrevi muito sobre os Munduruku e com eles estive em muitas ocasiões. Em todas elas a ameaça às suas terras e à sua integridade foram objeto de preocupação e reivindicações. Neste momento em especial, os Munduruku estão ameaçados mais uma vez, agora pelo governo Bolsonaro, como comprova o manifesto que eles divulgaram e que estou postando a seguir. 
Quero, ainda, deixar aqui um trecho de uma poesia sobre os Munduruku e sua ligação com o rio Tapajós.
Da profanação do território sagrado  dos Munduruku, até o véu místico formado por centenas de cânticos e rimas que ecoam nas pedras e nas águas dos rios.A pressão dos engolidores de floresta acabará se perdendo nos escaninhos da história. O silêncio descerá sobre o lugar sagrado e a inocência se dissipará nas espumas.  Ritos e cerimônias Munduruku não serão mais ouvidos e ecoados com o murmúrio das águas do rio Tapajós, poderoso e belo. (Telma Monteiro)


Carta dos caciques Munduruku
Ajebuyxi gu ekawen tup: o papel dos caciques

Nós, do povo Munduruku, estamos manifestando pelo desrespeito que está acontecendo com as autoridades do nosso povo. Os pariwats garimpeiros e políticos estão explorando a nossa casa e o nosso território agindo com suas mentiras, sem nos consultar.

Somos 14 mil Munduruku, um só povo e o nosso território é único. Karosakaybu e nossos antepassados que deixaram de herança para cuidarmos, vivermos e criarmos nossos filhos. Não apoiamos as leis e projetos que nos ameaçam.

A nossa luta não é de agora, é muito antiga. Cansamos de ouvir os pariwat falar que somos incapazes, e por isso, sempre mostramos a nossa capacidade. São os nossos antepassados que nos ajudam a proteger o nosso território.

Estamos aqui manifestando e pedindo socorro, porque os próprios políticos e vereadores estão nos matando, ajudando a poluir nossos rios, dialogando com governo em nome do nosso povo. Não aceitamos que nenhum vereador fale nem sobre regularização de garimpo e mineração nas nossas terras e nem sobre o processo de indenização das Itīn’a Wuy jugu (urnas funerárias do povo Munduruku) . Nenhum vereador está autorizado em falar em nome do nosso povo Munduruku.

Temos o nosso protocolo de Consulta, de acordo com a 169 da OIT e antes de qualquer intenção que afete a vida do nosso povo tem que consultar os caciques, cacicas, lideranças, pajés, professores, e até nossas crianças tem que ser ouvidas. Não aceitamos reuniões em Brasília só com pariwat. Qualquer decisão importante tem que ser tomada dentro do nosso território.

Cadê os projetos de lei voltado para o povo Munduruku?
Nós não negociamos a vida e o direito do nosso povo. Exigimos respeito. Não queremos que se repita o que já aconteceu no governo passado em Jacareacanga, que nós Munduruku manifestamos para defender nossos direitos e conseguimos reverter a demissão de 70 professores Munduruku.
Por isso, comunicamos a população de Jacareacanga que, são nossos parentes que dependem dos rios, peixes, roças, caças e da floresta para viver.

Estamos cansados de não sermos escutados. Cansados de esperar os políticos trazerem as informações. Sabemos que o governo atual está ameaçando nossos direitos, nosso território, nossa vida.

Queremos uma audiência urgente com os vereadores junto ao Ministério Público Federal, para que possam ouvir o que temos para falar.

Vamos continuar lutando na defesa dos nossos direitos e da vida do nosso povo!
Jacareacanga, 02 de outubro de 2019

Ferrogrão na Amazônia: estudos atualizados pela EDLP, Ministério dos Transportes e Infra S.A.

Imagem: Outras Palavras Ferrogrão na Amazônia: estudos atualizados pela EDLP, Ministério dos Transportes e Infra S.A.   Telma Monteiro, ...