Imagem: Regina Santos |
O artigo que reproduzo abaixo foi escrito em 11 de setembro de 2012, com exclusividade para o jornal Correio da Cidadania. Foi um furo de reportagem, graças à minha pesquisa sobre mineração, na época. A sociedade, a mídia, não sabiam, até então, que a mineradora canadense Belo Sun Mining estava iniciando o processo de licenciamento do maior projeto de extração de ouro a céu aberto de que se tem notícia no Brasil, bem ao lado das estruturas de Belo Monte, aproveitando os impactos que causariam. Impactos que se somariam e multiplicariam o desastre ambiental já em curso no rio Xingu, afetando milhares de famílias ribeirinhas, e terras indígenas.
Agora, em 19 de outubro de 2019, a justiça mandou suspender o licenciamento do Projeto Volta Grande da mineradora de ouro Belo Sun, no rio Xingu, até que todas as condicionantes da licença sejam cumpridas. A licença de instalação foi concedida pela Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS). Uma das condicionantes diz respeito à áreas compradas pela mineradora Belo Sun e que são do INCRA, destinadas à reforma agrária. Outro ponto ainda não resolvido diz respeito aos estudos do Componente Indígena que não foram aceitos pela FUNAI. (Telma Monteiro)
Telma Monteiro
A implantação do projeto da hidrelétrica Belo Monte é a forma de viabilizar definitivamente a mineração em terras indígenas (3) e em áreas que as circundam, em particular na Volta Grande, trecho de mais de 100 quilômetros que vai praticamente secar com o desvio das águas do Xingu. E é justamente nas proximidades do barramento principal, no sítio Pimental, que está sendo montado o maior projeto de exploração de ouro do Brasil, que vai aproveitar o fato de que a Volta Grande ficará seca por meses a fio com o desvio das águas do rio Xingu.
Pode-se começar essa
história ainda no Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental
(EIA/RIMA) de Belo Monte no capítulo que fala dos direitos minerários na região
da Volta Grande do Xingu. Nele consta que há 18 empresas, entre elas a
Companhia Vale do Rio Doce (requerimento para mineração de ouro), com requerimento
para pesquisa, 7 empresas com autorização de pesquisa e uma empresa com
concessão de lavra (CVRD, concessão para extração de estanho) na região onde
estão construindo Belo Monte.
Eram, na época de
realização dos estudos ambientais, 70 processos incidentes sobre terras
indígenas que têm 773.000 hectares delimitados, dos quais 496.373 hectares são
alvo de interesses para extração de minério, representando 63% do território
indígena. Empresas como a Companhia Vale do Rio Doce, Samaúma Exportação e Importação
Ltda., Joel de Souza Pinto, Mineração Capoeirana, Mineração Guariba e Mineração
Nayara têm títulos minerários incidentes na Terra Indígena Apyterewa. Ainda tem
muito mais.
Independente das regras
que norteiam o setor de mineração em vigor ainda hoje no Brasil, o governo
pretende autorizar a extração de minérios — ouro e diamantes, principalmente —
em terras indígenas (1). Nos últimos anos houve uma seqüência de descobertas de
jazidas de bauxita, caulim, manganês, ouro, cassiterita, cobre, níquel, nióbio,
urânio, entre outros minerais mais nobres, em toda essa região do rio Xingu.
Fica nítido quando se olha para os mapas de direitos minerários apresentados
nos estudos dos projetos Belo Monte, Complexo Teles Pires e Complexo Tapajós.
Estrategistas militares
defendem há décadas o domínio do Brasil sobre as jazidas e sua exploração para
evitar que Terras Indígenas se tornem territórios fechados e inacessíveis, o
que impediria a exploração, a exemplo do que acontece hoje com a Reserva
Ianomami (2). Nas terras indígenas da região do Xingu próximas aos canteiros de
obras da UHE Belo Monte estão concentrados pedidos de autorizações de pesquisa
e lavra de minerais nobres, como ouro, diamante, nióbio, cobre, fósforo,
fosfato.
A implantação do
projeto da hidrelétrica Belo Monte é a forma de viabilizar definitivamente a
mineração em terras indígenas (3) e em áreas que as circundam, em particular na
Volta Grande, trecho de mais de 100 quilômetros que vai praticamente secar com
o desvio das águas do Xingu. E é justamente nas proximidades do barramento
principal, no sítio Pimental, que está sendo montado o maior projeto de
exploração de ouro do Brasil, que vai aproveitar o fato de que a Volta Grande
ficará seca por meses a fio com o desvio das águas do rio Xingu.
Há mais de dois meses
está disponível na Internet o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do projeto
Volta Grande da empresa canadense Belo Sun Mining Corp., de junho de 2012. O
estudo defende as vantagens de se fazer uma operação de lavra a céu aberto para
beneficiamento de minério de ouro com "tecnologia e equipamentos de ponta,
similares a outros projetos no estado do Pará".
Algumas pérolas podem
ser encontradas no RIMA do Projeto Volta Grande como: "os Planos de
Desenvolvimento do Governo Federal e do Governo do Pará, para a região do
Projeto Volta Grande, apontam a necessidade de investimentos em infraestrutura,
educação básica, saúde e outros aspectos que permitam melhorar os indicadores
de desenvolvimento social e econômico da região, e promover a melhoria da
qualidade de vida de suas populações, de forma mais igualitária e
sustentável".
Funcionários da empresa
canadense conhecendo território onde pretendem extrair ouro
Incrível como, além das
hidrelétricas, os projetos de mineração, na visão do governo federal e do
governo do Pará, também se tornaram a panacéia para solucionar todos os
problemas não resolvidos de desenvolvimento social. Papel que seria obrigação
do Estado, com o dinheiro dos impostos pago pelos cidadãos de bem.
Ainda, segundo o estudo
apresentado pela Belo Sun Mining Corp., o investimento total no projeto de
mineração de ouro da Volta Grande será de US$ 1.076.724.000,00, que pretende,
como "brinde", propiciar controle e monitoramento ambiental e social
e colaboração para a realização do desenvolvimento social, econômico e
ambiental daquela região. A vida útil do projeto foi estimada em 12 anos de
acordo com as pesquisas já efetuadas.
Não é uma maravilha?
Mas no RIMA (a reportagem teve acesso ainda ao EIA) faltaram alguns esclarecimentos: não há menção aos índígenas da região, nem ao fato de que as obras de Belo Monte facilitarão o projeto Volta Grande e nem por que a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Pará está licenciando o empreendimento, quando deveria ser o Ibama. São 106 processos de licenciamento de mineração – ouro, bauxita, diamante, cassiterita, manganês, ferro, cobre, areia, granito – no site do Ibama, dos quais 30 são no estado do Pará. Então, por que esse licenciamento escapou da análise dos técnicos do Ibama?
Os impactos ambientais
do projeto da Belo Sun Mining sobre a biodiversidade vão atingir principalmente
a qualidade das águas superficiais e subterrâneas - assoreamento dos cursos
d'água -, o que acrescenta à região mais um agravante para aumentar o prejuízo
das comunidades indígenas da Volta Grande e do rio Bacajá, já às voltas com
impactos semelhantes decorrentes das obras de Belo Monte. Sem contar o
precedente que vai escancarar as portas para exploração de outras jazidas. (Ver
mapa abaixo)
Os índios isolados na
área do projeto da Belo Sun Mining
A presença de indígenas
em isolamento voluntário na região dos rios Xingu e Bacajá está descrita desde
a década de 1970 (4). Há estudos e testemunhos que comprovam sua presença nas
cabeceiras do Igarapé Ipiaçava e de um grupo isolado (ou grupos isolados) na
Terra Indígena (TI) Koatinemo. Testemunhos colhidos em 2008 confirmaram a
presença de indígenas em isolamento voluntário. Os Asurini relataram seu
encontro com isolados, depois de uma expedição de caça na cabeceira do Igarapé
Ipiaçava.
O projeto Volta Grande
da Belo Sun Mining Corp está em parte nas áreas de perambulação desses grupos
em isolamento voluntário. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte, Componente
Indígena, reconheceu a presença de indígenas em isolamento voluntário na
cabeceira do córrego Igarapé Ipiaçava e na Terra Indígena Koatinemo dos Asurini
(5). Em Parecer Técnico, a Funai (6) fez referência aos impactos (7) que
poderiam afetar os indígenas em isolamento voluntário, observando que a ação de
grileiros e invasores vai ameaçar sua integridade física e cultural.
O parecer da Funai
ainda alerta para o fato de que o desvio das águas e a redução da vazão do rio
Xingu no trecho da Volta Grande pode gerar efeitos em cadeia sobre a ictiofauna
nas florestas marginais ou inundáveis; o movimento migratório vai criar aumento
populacional na região e provocar pressão sobre os recursos naturais; essa
pressão levará às invasões das terras indígenas onde perambulam os grupos de
indígenas em isolamento voluntário (8).
A Funai também propôs
que antes do leilão de compra de energia de Belo Monte, ocorrido em 20 de abril
de 2010, o poder público deveria coordenar e articular ações para a proteção
dos indígenas em isolamento voluntário. Para isso era preciso publicar uma
Portaria de Restrição (9) de Uso entre as Terras Indígenas Trincheira Bacajá e
Koatinemo.
Em 11 de janeiro de
2011, finalmente, a Funai conseguiu publicar a Portaria de Restrição nº 38, que
estabeleceu restrição ao direito de ingresso, locomoção e permanência de
pessoas estranhas aos quadros da Funai na área descrita, pelo prazo de dois
(02) anos a contar de sua publicação. A área descrita na Portaria, Terra
Indígena Ituna/ Itatá, está localizada nos municípios de Altamira, Senador José
Porfírio e Anapu, estado do Pará, tem superfície aproximada de 137.765 hectares
(ha) e perímetro aproximado de 207,2 km. (Ver mapa)
O projeto Volta Grande da Belo Sun Mining Corp. está sendo implantado no município de Senador José Porfírio, na área da Portaria nº 38 da Funai, que visou proteger os grupos de isolados. Em conversa sobre a Portaria, válida até dezembro de 2012, com um funcionário da Funai que não quis ser identificado nesta matéria, ele me disse que até o final do ano tem que escrever uma nova justificativa para sua reedição e para isso precisam de mais informações sobre o projeto Volta Grande e outros previstos na região. Ainda, segundo ele, existem depoimentos mais recentes sobre a presença dos índios isolados e a Funai está tratando a região da Portaria nº38 como prioridade. A Funai tem tido muitas dificuldades, feito muitas investidas na área e os estudos estão andando, com seis expedições realizadas no último ano, concluiu.
A Audiência Pública
para "apresentar" o projeto Volta Grande da Belo Sun Mining Corp.
para a sociedade está marcada para o próximo dia 13 de setembro.
Belo Sun Mining Corp.
A empresa responsável,
aqui no Brasil, pelo Projeto Volta Grande é a Belo Sun Mineração Ltda., subsidiária
brasileira da empresa canadense Belo Sun Mining Corporation, que pertence ao
grupo Forbes & Manhattan Inc., um banco mercantil de capital privado
voltado para projetos de mineração em todo o mundo.
A Belo Sun Mining Corp.
foi lançada na Bolsa de Valores de Toronto, em 30 de abril de 2012, em ritmo de
festa e comemoração. No seu site atualizadíssimo, a empresa não esconde suas
pretensões de exploração mineral na Amazônia e que tem um portfólio de
propriedades no Brasil. O foco principal da Belo Sun é explorar a mineração
numa área que, afirma, é 100% de sua propriedade e que tem ouro estimado em
aproximadamente 2,85 milhões de onças.
Quando se leem os diversos documentos dá para entender tanto entusiasmo e como o projeto Volta Grande se tornou a menina dos olhos da Belo Sun, pois controla os direitos de mineração e exploração de 130.541 hectares (1.305 km ²). Como isso foi possível ainda é preciso investigar, pois durante algum tempo as equipes da companhia têm atuado na Volta Grande do Xingu, sem disfarces, realizando perfurações e tocando, na Secretaria Estadual de Meio Ambiente do estado do Pará, o processo de licenciamento ambiental. O farto material fotográfico disponibilizado no site dá uma desagradável sensação de que muito poder está por trás desse bilionário negócio.
Outro projeto,
Patrocínio, na região do Tapajós, também da Belo Sun Mining Corp., está sendo
desenvolvido e merece um capítulo à parte.
Embora a empresa tenha informado nos estudos ambientais que se trata de explorar uma jazida próxima à superfície, em condições geológicas favoráveis, com extração a céu aberto, no site ela se refere à existência de um potencial de alta qualidade em profundidades de pelo menos 200 metros ou 300 metros abaixo da superfície. Parece que nada está sendo descartado no projeto e que a construção da barragem principal de Belo Monte, no sítio Pimental, para desviar o rio Xingu justamente no trecho da Volta Grande, vai beneficar a extração do ouro em grandes profundidades.
Outro detalhe que
chamou a atenção sobre a Belo Sun Mining Corp. é que, nos documentos
disponibilizados agora neste mês (setembro), a referência à companhia foi
alterada. Em uma nota de 2011, o Brasil Econômico conta sobre a Belo Sun e
a extração de 4 milhões de onças troy (barra de 31,1 gramas) em Altamira, no
Pará, e dá o empresário Eike Batista como potencial investidor devido à ligação
dele com o a região, onde explorou ouro entre 1980 e 1990.
Começa a fazer sentido.
Talvez Eike Batista seja o grande investidor da Belo Sun Mining Ltda.,
subsidiária da Belo Sun Mining Corp.
A mineração no Brasil
Em maio de 2011, o governo divulgou o Plano Nacional de Mineração (PNM) 2030, com um objetivo mal explicado de que o setor mineral contribuiria com um Brasil sustentável. Palavras expressas na introdução feita pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
A pretensão de
apresentar uma visão de futuro calcada no desenvolvimento do setor mineral
brasileiro com objetivo estratégico de sustentabilidade é, no mínimo, ofensiva.
A justificativa que o PNM utiliza para antecipar a ideia de que haverá maior
pressão no uso e ocupação do solo é que a demanda por bens minerais em países
emergentes deverá crescer nas próximas décadas.
As áreas chamadas de
Restrição Legal, que são as unidades de conservação, terras indígenas, as
terras quilombolas, áreas destinadas à reforma agrária, são consideradas uma
espécie de entrave à expansão da atividade mineral. Um exemplo que é citado no
PMN, como um intróito para conduzir o leitor a entender a necessidade de
exploração de mineral em terras de restrição legal, é o Plano de Manejo,
considerado como um verdadeiro obstáculo às práticas de "atividades econômicas".
As terras indígenas
também são consideradas restritivas à atividade mineral, pois impedem que mais
de 25% da Amazônia Legal e 12% do território nacional sejam exploradas. O
artigo 231, § 3º, da Constituição Federal de 1988 é entendido como passível de
regulamentação, pois prevê que a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em
terras indígenas se dêem após aprovação do Congresso Nacional, desde que as
comunidades afetadas sejam ouvidas, assegurando-lhes participação no resultado
de lavra. Como a lei não foi regulamentada, o PNM lhe atribui um quê de
inconveniência para a concretização dos planos de mineração ali contidos.
Regulamentar o Artigo
231 da Constituição Federal torna-se, então, no PNM, um desafio para que no
futuro se possa disciplinar a relação entre a atividade minerária e as
comunidades indígenas. A articulação pressupõe uma melhoria no conhecimento
geológico do Brasil para facilitar a identificação de novas jazidas e, o que é
pior, a maior autonomia do Estado até para a oferta de insumos minerais para o
setor agropecuário. Sem nenhum resquício de pudor, o PNM expõe o objetivo claro
de obter, com a regulamentação, a permissão de "abertura de minas em
terras indígenas", que "também amplia o escopo de atuação do setor
(minerário) na região Norte".
Não é de se surpreender
que até um papel estratégico para a conservação das florestas foi atribuído ao
setor mineral, sem sequer um esclarecimento de como isso se daria em plena
Amazônia. À exploração de urânio também é concedida uma colocação de arrepiar,
considerada como uso preferencial de produção de energia que reduz os gases de
efeito estufa. Exploração essa na Amazônia, subentende-se, e em terras
indígenas e unidades de conservação!
A mineração na Amazônia
passa a ser destacada como a atual fronteira da expansão mineral, encarada com
verdadeiro otimismo no texto, dado o florescimento dos grandes empreendimentos
já em curso desde o século XX. São citados todos os projetos cujos impactos se
conhecem largamente, como a lavra de bauxita de Juruti, no Pará; a lavra de
manganês da Serra do Navio (AP); de bauxita do rio Trombetas, Paragominas; de
estanho de Pitinga (AM) e de Rondônia; de ferro, manganês, cobre e níquel de
Carajás (PA); de caulim do Jari (AP) e da bacia do rio Capim (PA); de alumina e
alumínio de Barcarena (PA); de escoamento de ferro-gusa pela ferrovia de
Carajás.
Todo o plano nos leva a
antever um grande e único processo de exploração mineral na Amazônia, já
precedidos da destruição imposta pelos projetos hidrelétricos e hidrovias. A
exploração do grande potencial mineral identificado na Amazônia, especialmente
em terras indígenas, está, pelo menos no papel e no Congresso Nacional, em
curso, bem pontuada nos planos do governo federal com projetos significativos
para facilitar o conhecimento geológico do Brasil.
Na região amazônica, 5%
da área que deverá ser estudada para aumentar o conhecimento geológico
correspondem a terras indígenas e o documento estabeleceu diretrizes para
mineração em áreas com restrições legais. Entre elas, o conhecimento do subsolo
para tomada de decisão que se adeque aos "interessese nacionais, regionais
ou locais." O que isso quer dizer, na prática, é que, apesar de a
definição de acesso e uso das terras indígenas estar bem clara na Constituição
de 1988, uma agenda de entendimentos vai propiciar a regulamentação em
tramitação no Congresso e, assim, viabilizar a mineração em terras indígenas e
quilombolas. Tudo em nome do interesse nacional.
O PNM propõe duas ações
com relação às áreas com restrições legais, para aparar as arestas que travam o
desenvolvimento da atividade minerária: uma é articular com órgãos de usos e
ocupações do solo restritivos à atividade mineral, que seriam o meio ambiente,
terras indígenas e de quilombolas, áreas para reforma agrária, sítios
arqueológicos e fossilíferos, entre outros; e a outra é apoiar a aprovação de
lei que regulamente o aproveitamento dos bens minerais nas terras indígenas,
segundo dispõe o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988.
O Projeto de Lei da
mineração
É da competência
exclusiva do Congresso Nacional "autorizar, em terras indígenas, a
exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de
riquezas minerais", Art. 49, inciso XVI, da Constituição Federal (CF). As
riquezas minerais são sempre de interesse nacional e econômico, mas, no que diz
respeito à preservação dos interesses das populações indígenas, há uma grande
distância.
Está tramitando no
Congresso Nacional um Projeto de Lei (PL) 1610/96 que pretende regulamentar a
exploração de recursos minerais em terras indígenas e que sofre uma grande
pressão para que seja aprovado ainda este ano. Uma comitiva de deputados da
Comissão Especial de Mineração em Terras Indígenas foi à Austrália para ver
como é que fazem por lá, para que os indígenas aceitem a mineração em suas
terras. Foram estudar a legislação, contratos, royalties e a regulação do
sistema de exploração mineral em áreas indígenas, além-mar, para elaborar um
parecer ao PL 1610.
O marco regulatório e o
novo código da mineração
Em 2011, o Ministério
de Minas e Energia resolveu lançar a discussão do novo Marco Legal da mineração
brasileira, fez um diagnóstico onde apontou burocracia e uma certa
"fraqueza" do poder concedente como as principais dificuldades que
atingem o setor. Entre os objetivos propostos para o novo Marco Legal estão o
fortalecimento do Estado para ter soberania sobre os recursos minerais,
propiciar o maior aproveitamento das jazidas e atrair investimentos para o
setor mineral. Tudo indica que os investidores já estão a postos.
Lógico que, no pacote
do novo Marco Legal da mineração brasileira, o MME aproveitou para criar o
Conselho Nacional de Política Mineral e a Agência Nacional de Mineração (ANM),
que, provavelmente, serão preenchidos com a nomeação de pessoas em cargos de
confiança. Isso já acontece, por exemplo, com a Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), ligada à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), subordinada
diretamente ao MME.
As propostas do governo
Dilma Rousseff, para alterar o Código de Mineração, que é de 1967, e criar a
Agência Nacional de Mineração, serão examinadas pelo Congresso Nacional a
partir deste mês de setembro. A principal mudança no Código de Mineração será
que o governo passará a leiloar o direito de exploração que, atualmente, é
conferido por ordem de chegada.
Todas essas alterações
previstas no setor mineral no Brasil, no entanto, não vão alterar em nada as
licenças para pesquisa e exploração de novas jazidas já concedidas pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Edison Lobão, ministro de
Minas e Energia, recentemente anunciou que as autorizações novas estariam
suspensas até que o novo Codigo de Mineração seja aprovado pelo Congresso.
Qualquer processo em tramitação e não concluído no DNPM, portanto, ainda segundo
o ministro, perderiam a validade e as jazidas seriam futuramente leiloadas de
acordo com as novas normas.
Para se ter uma ideia
do tamanho do filão minerário no Brasil localizado principalmente na Amazônia,
são mais de 5 mil alvarás de pesquisa e 55 portarias de lavra que estão em
processo de aprovação no DNPM. Lógico que a gritaria é grande por parte das
mineradoras que estão na fila de espera, especialmente quando elas levam em
conta que a Compensação Financeira pela Exporação de Recursos Minerais (CFEM)
vai passar de 0,2% para até 6%. Mas, para o Ministério de Minas e Energia,
tocado por Edison Lobão, sob a chefia de José Sarney, a aprovação do Código da
Mineração aumenta ainda mais o seu poder, passando a ser so controlador direto
dos leilões de concessões, como o da energia.
Essa é uma herança do
governo Lula desde 2010 que Dilma Rousseff agora está tocando com celeridade.
Esse resumo sobre as tramitações que envolvem as alterações no setor de mineração serve para esclarecer o porquê de grandes empresas internacionais estarem ao mesmo tempo "atacando" as principais regiões onde estão as maiores riquezas minerais no Brasil. Uma delas é onde está sendo construída a hidrelétrica Belo Monte, na Volta Grande do Xingu; uma outra é na Província Mineral do Tapajós, justamente onde o governo planeja a construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós. Coincidência ou não, as empresas são canadenses e têm vários projetos para exploração de ouro nessas áreas.
Esse resumo sobre as tramitações que envolvem as alterações no setor de mineração serve para esclarecer o porquê de grandes empresas internacionais estarem ao mesmo tempo "atacando" as principais regiões onde estão as maiores riquezas minerais no Brasil. Uma delas é onde está sendo construída a hidrelétrica Belo Monte, na Volta Grande do Xingu; uma outra é na Província Mineral do Tapajós, justamente onde o governo planeja a construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós. Coincidência ou não, as empresas são canadenses e têm vários projetos para exploração de ouro nessas áreas.
Notas:
1) Governo quer
mineração em áreas indígenas da Amazônia; disponível em
http://www.amazonianet.org.br/index.php?system=news&news_id=652&action=read.
2) Idem acima.
3) Exploração de
minérios em terras indígenas é tema polêmico , 26/09/10, disponível em:
http://www.observatorioeco.com.br/index.php/exploracao-de-minerios-em-terras-indigenas-e-tema-polemico/
4) AHE Belo Monte
Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA),
páginas 103/111/113. Componente Indígena PROCESSO IBAMA n°
02001.001848/2006-75, abril de 2009.
5) Idem, p. 103
6) UHE Belo Monte –
Componente Indígena Parecer técnico nº 21/CMAM/CGPIMA-FUNAI.
7) Parte 4 – Avaliação
Geral dos Impactos Socioambientais nas Populações Indígenas, p. 87.
8) “A continuidade e
possível intensificação dessa ocupação por não-índios colocará em risco a
integridade física dos grupos isolados, sendo necessária a interdição da área e
as devidas ações de fiscalização. Em setembro de 2009 a Funai enviou outra expedição
para a região com o mesmo objetivo de identificar a presença dos isolados, mas
ainda não obtivemos as informações com os resultados dessa nova tentativa.” p.
86, UHE Belo Monte – Componente Indígena Parecer Técnico nº
21/CMAM/CGPIMA-FUNAI.
9) “1) Medidas ligadas
ao Poder Público, a serem implementadas em diferentes etapas: a) Ações até o
leilão: 3. Publicação de portaria para restrição de uso entre as Terras
Indígenas Trincheira Bacajá e Koatinemo, para proteção de índios isolados”; UHE
Belo Monte – Componente Indígena Parecer técnico nº 21/CMAM/CGPIMA-FUNAI, ps.
95/96.
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