Foto: Veja/Abril |
Por Telma Monteiro
Bolsonaro é esse ser. Ser abjeto
que se alimenta do sofrimento e se regozija com a dor.
Admito. Estou com crise
de abstinência. Não fui preparada para ficar em isolamento social. Sinto falta
de estar com as pessoas, as que amo e as que cruzo pela vida, as que odeio
porque são bolsonaristas e estão cegas, e as que não se manifestam para se resguardarem.
Sinto falta dos amigos e a conversa virtual não me preenche. Não funciona
comigo. Preciso tocar, olhar nos olhos, ver sorrisos e sorrir também, sem que
exista uma câmera promovendo isso. Não quero me sentir em um filme de ficção em
que todos parecem robôs por detrás da telinha.
Observe como até na TV
os apresentadores dos programas já parecem autômatos. Não aguento mais ver o
Bom Dia Brasil. Meu coração se confrange com as informações sobre a COVID-19.
Estou farta e cansada de sentir aquela dor da agonia quando os números aparecem
e quando as imagens mostram pessoas desfilando sem máscaras, caminhando entre
outras e sem o mínimo de cuidado com a proximidade. A dor se intensifica quando
tomo conhecimento de que muitos estão mantendo sua rotina de trabalho porque
precisam de seus empregos.
Muitos dos meus amigos
continuam trabalhando e isso me dói. Ainda estão a salvo e é um consolo para
meu coração. Eu tenho vergonha de ter o privilégio de ficar em casa, com meu
trabalho, meus livros, assistindo o pôr-do-sol, ouvindo os passarinhos, olhando
a floresta. Como é constrangedor se sentir seguro enquanto tantos não estão.
Penso nos indígenas e na sua capacidade de resistência, pois além de enfrentar
um sistema que os quer banir para ocupar suas terras, agora se deparam com uma
ameaça para a qual jamais teriam como se preparar. São frágeis diante da
pandemia e do Estado omisso.
Começo meu dia
encarando a realidade que tento entender, apesar de sempre ter a sensação de
que é um pesadelo. O Brasil está se despedaçando nas mãos de um louco e sua
prole maligna. E isso me faz lembrar que assisti a uma série em que um ser
mutante consome a energia das pessoas e come outras, literalmente, para se
fortalecer com a dor daqueles que quer destruir. Bolsonaro é esse ser. Ser abjeto
que se alimenta do sofrimento e se regozija com a dor. Bolsonaro absorve a
desgraça e a faz reverter em ironia, destruindo a sanidade da sociedade. Bolsonaro
se escuda em seus filhos criados à sua semelhança, para perpetuar e destilar a
maldade.
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