Por Telma Monteiro
“(...) a liberdade de expressão, da
imprensa, de opinião, de escolhas políticas, não se põe em risco, mas se
protege em quaisquer circunstâncias acima de tudo e acima de todos.” (Telma
Monteiro)
Esse vazio ético que
permeia a sociedade brasileira atual é acachapante. Estamos a caminho de um
precipício de onde não poderemos sair tão cedo. Nas mãos de um governo pautado
por desgovernos e a mercê de um banho de sangue, somos absolutamente
dispensáveis. Quando digo nós, me refiro aos que pensam, que se importam com a ciência,
com a cultura, com a população desassistida das periferias, com os moradores de
rua, com os povos originários que estão a caminho da extinção, com a
importância de fazer isolamento em época de acirramento da pandemia de
Coronavírus, com a vergonha de ainda não sabermos quem são os mandantes do assassinato
da Marielle e Anderson, com o desmatamento da Amazônia, incêndios no Pantanal, com
o garimpo ilegal avançando em terras indígenas e levando a Covid-19 aos rincões
que não têm ajuda médica ou humanitária; os fascistas esfregam na nossa cara, todos
os dias, os símbolos do nosso país como se fossem um troféu que eles conquistaram
.
Bolsonaro é um herói de
uma corja que parece não ser deste mundo. Às vezes penso que essas pessoas que
fazem carreatas com carros de luxo pedindo que vulneráveis voltem ao trabalho, a
volta do AI-5 e da ditadura, além da destruição dos pilares da democracia, foram
abduzidos por alienígenas e devolvidos, em algum momento, depois de esvaziados
seus cérebros.
Passamos décadas sem
perceber as hordas de brasileiros que não aprenderam nas escolas a história e as
lições básicas sobre Democracia, Constituição Federal, ditadura, tirania, ética,
respeito às leis e ao legado de incontáveis heróis que um dia nos conduziram à
liberdade. Ou se aprenderam, esqueceram. Eles, os seguidores fanáticos de
Bolsonaro, não sabem o que significa liberdade e como muitas nações lutaram
para obtê-la. Não houve quem os ensinasse que a liberdade de expressão, da
imprensa, de opinião, de escolhas políticas, não se põe em risco, mas se
protege em quaisquer circunstâncias acima de tudo e acima de todos. E que as instituições
democráticas, que ousam querer derrubar, são os pilares que sustentam a liberdade.
Essa liberdade que eles nem sabem que têm. Pois se não a tivessem não estariam nas
ruas e nas redes sociais pedindo a volta da ditadura.
A aqueles brasileiros
que vomitam besteiras ininteligíveis nas redes sociais, escrevem faixas com
dizeres desconexos nos protestos, que apitam e gritam diante de hospitais, que impedem
o trânsito de socorro às vítimas, que agridem profissionais da saúde, pergunto:
de qual penumbra subterrânea imunda vocês emergiram? Onde estavam escondidos
até agora? Talvez não estivessem, apenas eram invisíveis para nós os que se
preocupam. Foi quando estávamos tão envolvidos na luta contra as injustiças sociais,
que jamais ganharíamos e não ganhamos, que esses entes emergentes encontraram a
luz sem que percebêssemos, e se fortaleceram. Esquecemos que ao nos voltarmos
para um lado, desguarnecendo a retaguarda, um monstro se formou. Como um
furacão no meio do oceano que se alimenta de tudo que está a sua volta e
percorre um longo caminho silente se preparando para destruir. Esse fenômeno é
Bolsonaro e seus seguidores atraídos, gravitando em seu entorno.
Como se não bastasse o lado
de fora, no lado de dentro rastejam ministros incompetentes em torno de um
presidente que desconhece e avilta a liturgia do cargo, que ofende e que
destrói a autoestima de todos que dele se aproximam. Pensar em um tirano me fez
pesquisar a tirania ao longo da história. E todos, sem exceção, tinham uma
característica comum e que Bolsonaro carrega com louvor: o poder de destruição
e esfacelamento da autoestima da sociedade para enfraquecê-la. É esse enfraquecimento
gradativo que vai nos destruir se nós não formarmos uma frente de combate. Com
a Covid-19 é impossível irmos para as ruas e é isso que faz Bolsonaro mais
letal. A quadrilha do Planalto ganha
tempo e mais adeptos, pois não encontram resistência. Todos temos testemunhado
o acirramento de malignidade em pessoas cada vez mais apegadas ao falso mito.
Ele, como um buraco negro no infinito, atrai seus iguais com discurso obsceno, sem
hombridade e humanidade, desprezo pela ciência e rico em desdém pela sociedade.
Esses seres consomem isso e vivem disso.
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