https://pt.wikipedia.org/wiki/Inferno_(Divina_Com%C3%A9dia) |
“há três aspectos das coisas que
devem ser evitados nos modos: a malícia, a incontinência e a
bestialidade." (...)A justiça divina retratada no livro ["Divina
Comédia" de Dante Alighieri] é cabal, racional e definitiva, o que torna o
inferno dantesco uma espécie de "caos impiedosamente ordenado"
Por
Telma Monteiro
Todo mundo está comentando
a reunião ministerial do Bolsonaro, de 22 de abril de 2020. Meu estômago estava
meio fraco. Só assisti a uma parte e foi suficiente para pensar sobre o que nos
levou a produzir tanto lixo humano no Brasil. Lixo que governa o país e que eu
não entendo de onde saiu. Saiu? Não, foi excretado, por sabe-se lá qual sina a
que estamos destinados.
Está na hora de pensar,
mesmo em meio à pandemia, como vamos fazer para nos livrar desse lixo em tempo
de salvar vidas ameaçadas pela pandemia da Covi-19, entre outras coisas. Estive
horas nas redes sociais e o que me surpreendeu mesmo foi que todos escreviam as
mesmas coisas, comentários semelhantes que apenas diferiam no vocabulário, nos
qualificativos, nas expressões de horror. Horror? Que horror? Pois já não vínhamos
assistindo, todos os dias, as destrambelhadas falas do presidente do Brasil
diante do palácio, para sua claque bem adestrada?
É evidente que com as
redes sociais nos tornamos preguiçosos, pois nos limitamos a escrever nossas
impressões, nossas interpretações, nossos qualificativos sobre este ou aquele
verme, neste caso específico, presente à reunião ministerial. Assim como temos
feito ao longo desses últimos 17 meses, desde que Bolsonaro assumiu. Não foram
poucas as oportunidades de nos sentirmos incomodados, agredidos, pudicamente
ofendidos por escatológicas palavras de presidente ou ministros.
Escatológica
foi também, como classifico, a atuação de gente como Moro, Regina Duarte,
Mandetta, Weintraub, Guedes, Damares, Ricardo Salles et caterva. E Mourão, com
seu risinho cínico e olhar perscrutador ladino. Eu sei o que você pensa,
Mourão, pois está estampado no seu modo de agir.
Mas, vejamos, onde nos
levará, afinal, assistir e comentar tudo o que se passou na reunião? Celso de
Mello, assistiu e se disse chocado (foi o que li em algumas mídias) com a
natureza daquilo que foi dito e explicitado ou escondido nas entrelinhas das
falas daqueles que precisei ter estômago para ouvir e ver algumas partes apenas.
Mas o vídeo o chocou com o quê, exatamente? Afinal ele, Celso de Mello, é parte
de um dos poderes, e transita em Brasília, deve ouvir seus assessores, colegas,
família, amigos, infiltrados, funcionários e, tenho certeza, que não havia quem
não soubesse tudo o que fora dito na tal da reunião. Era público desde que
aconteceu.
O pouco que assisti deu
para observar o séquito de servidores de bandeja nas mãos servindo o
convescote, com água, café, petiscos ou docinhos, sei lá. Ora, eles não têm
ouvidos? Ou não entendem o português o suficiente para perceber que um bando de
urubus estava ali para comer a carniça do povo brasileiro que está morrendo ao
poucos, todos os dias, graças à falta de estratégias para amenizar o resultado
da pandemia. Então, não há como não ter ideia daquilo que ocorreu numa reunião
que mobilizou toda a mídia nacional em busca de um grande escândalo ou crime
declarao para chutar de vez essa corja da presidência da república. Mas o balão
furou, era só ar, e presenciou-se uma cusparada de palavrões e chavões que
todos nós já conhecíamos desde que Bolsonaro assumiu em terreno fértil deixado
por Temer e antes dele por Lula, e Dilma, e FHC.
Ricardo Salles foi
apenas Ricardo Salles, um verme sempre à espreita da excrescência das leis
ambientais não cumpridas. Há algum tempo ele estava sumido, obscurecido pelo
chefe que se encarregava de despistar e improvisar besteiras para que essa
mídia incompetente e ávida desse espaço para suas aberrações. Salles é outro
predador nos escaninhos do poder de Brasília, assim como Waintraub, ou Guedes,
ou Damares. Todos escondidos atrás da grande “moita” cultivada por Bolsonaro.
Que ninguém se engane,
aquilo que viram foi apenas a cortina de fumaça, pois o fogo está nos
recônditos, com presença de generais de pijama transitando pelos palácios e
pela praça dos Três Poderes onde se organiza algo muito maior, acobertado por
um bando de ministros pusilânimes que estrearam no poder dito “pós corrupção”.
Sim, uma das poucas coisas que meu estômago pode depreender de da tal reunião,
foi ouvir da boca de Bolsonaro que lá não havia corrupção. Só não caí na
gargalhada porque estava com náuseas. O que era aquilo tudo senão os mais altos
degraus de um ambiente corrupto? Desviar dinheiro da Petrobras não é a única
forma de corrupção que se conhece. Ou vamos chamar como, a fala do Guedes sobre
ajudar as grandes empresas e deixar à míngua as pequenas para que morram seus
CNPJs. Enterrar milhares de brasileiros mortos por falta de respiradores, UTIs,
hospitais, seria exatamente o quê? Não seria corrupção o que impediu que os
recursos estivessem disponíveis para salvar vidas, equipar hospitais, remunerar
os profissionais da saúde? Querem mais corrupção? E o todo o dinheiro que
deveria ter sido destinado para aqueles que perderam o emprego, os chamados
autônomos, os empreendedores individuais, os moradores de rua? Dificultar o
acesso a esses recursos então, não é corrupção?
Vender a “bosta” do
Banco do Brasil, como vociferou Guedes, aos ansiosos banqueiros que fazem fila
para pegar sua fatia no butim, é o quê? Não é uma forma de corrupção? Vender
empresas estatais para ficarmos nas mãos de empresas privadas e sujeitos a
depender delas e seus preços “de mercado” é o quê? Não devemos chamar de corrupção
esse resultado que vai favorecer aqueles que querem se locupletar com os ganhos
privados e deixar livre para os políticos, os recursos dos impostos pagos pelos
brasileiros?
E quanto a Moro?
Dezesseis meses no governo e só agora percebeu que aquilo não era ambiente
saudável para ele? Assistiu reuniões com ministros, presidente, generais,
aliviou um monte para a familícia e só agora se deu conta que precisava
denunciar algo? Uma porcaria de reunião onde se ouviu palavrões, ameaças ao
STF, ao meio ambiente, aos governadores. Só agora, Moro? E o resto do tempo,
todos eram santos impolutos? Não houve corrupção nesse tempo em que as
investigações no Rio de Janeiro davam conta de que havia um Queiroz sumido,
dois assassinatos, de Marielle e de Anderson, com as investigações em
banho-maria, em que não se sabe até agora os mandantes? Isso não se chama
corrupção?
E quanto aos vazamentos
de óleo no litoral brasileiro? Milhões de galões que enegreceram nossas praias,
causaram prejuízos às comunidades, sem que todo o aparato da marinha detectasse,
sequer, de onde e como. Isso foi impedido por incompetência, desleixo ou
corrupção? Ricardo Salles esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente por
todos esses meses, 17 para ser mais preciso, quando se deram os incêndios na
Amazônia e no Pantanal, sem que ninguém tenha sido responsabilizado, preso ou
ao menos acusado. Que nome dar a isso senão corrupção? E o Ibama e a ordem dada
ao Ministério do Meio Ambiente para não destruir os equipamentos dos garimpos
ilegais em terras indígenas? Como denominamos isso? No meu conceito e no de muita
gente se chama corrupção. E o INPE e Ricardo Galvão colocado na rua como se
fosse um ninguém só porque expôs os dados legítimos do aumento do desmatamento
na Amazônia. E no lugar dele colocaram um astronautinha fajuto que nem sabe
somar direito. Como chamamos isso, também, senão corrupção?
Mas ainda não terminei.
Falta falar da Vale, de Mariana e Brumadinho, que estão em segundo plano,
encobertos pelas demais desgraças, e todos acabaram esquecendo que as vítimas
não receberam aquilo que lhes cabia e que sob a égide de contribuições miseráveis
a algumas “obras” do governo. Uma Vale execrada pelo mundo inteiro se esquiva
das suas responsabilidades e o governo endossa. Como chamar a isso senão
corrupção? E as consequências para o meio ambiente de todos esses desastres que
deveriam ter recebido o apoio e a exigência de governo, esse de Bolsonaro, “sem
corrupção” e demais instituições ditas democráticas que nem se manifestaram e, quando
o fizeram, foi para “inglês ver” e sem qualquer consequência para os
responsáveis. Como chamar isso também, senão corrupção?
E quanto ao Fundo
Amazônia e os mais de 2 bilhões de Reais que estão no Banco do Brasil sob a
égide do BNDES? Que ninguém mais menciona, e o governo finge não existir, bem
como o Ministério do Meio Ambiente e seu corrupto Ricardo Salles, que quer se
aproveitar da exposição das mortes com a Covid-19 para implementar leis frouxas
e facilitar a destruição de biomas brasileiros e beneficiar, entre outros, o
agronegócio. Como chamarmos tudo isso, senão corrupção?
Então, Bolsonaro, não
me venha com essa conversa de que no seu governo não tem corrupção. Tem sim, e
não que você tenha o privilégio de ser o primeiro. É sim a continuação de um
longo período, desde da descoberta do Brasil, em que corrupção sempre foi a
palavra que define o estrago que tomou conta da vida e dos prejuízos para a evolução
do povo brasileiro até descambar no pior dos males representados pelo seu
governo. Além da corrupção, a incompetência, o cinismo e o desrespeito com o
povo e as instituições democráticas. E por falar nisso, o Congresso tem contribuído,
se mostrado um dos maiores defensores do autoritarismo que está por vir, implementado
na calada da noite, pois continua omisso e conivente como sempre foi. Só que
agora é pior, negocia a liberdade de seus eleitores. Encobre sob um manto de
sangue a destruição da sociedade brasileira e do seu povo.
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