10/01/2022
Foto: Mar de Olivença –
Sirihyba - Terra Indígena Tupinambá no enfrente a Aldeia Taba Gwarïnï Atã.
Data: sem datação. Autoria: Mauricio Pinheiro. |
Era a primeira
segunda-feira do mês de dezembro desses quase dois anos da doença pandêmica (06
de dezembro de 2021). Logo cedo dois Parentes Indígenas e Pescadores – Bijupirá
e Baiacu – se encontraram à beira mar entre o Jairy – Sirihyba que fica aqui em
Terras Tupinambá em Olivença (Ilhéus/BA).
Estavam em frente a
Aldeia Jairy Ituaçu e a Aldeia Taba Gwarïnï Atã (onde moro). Como quase sempre
faço pela manhã, eu também estava lá.
Sabe... nosso Território
fica na Mata (Ka’á) Atlântica e em frente ao Paranãussu (Mar Grande – Oceano
Atlântico). Nossa Terra (Opaba) é cortada por rios, riachos e ygarapés onde
correm águas férreas, consideradas medicinais. Opaba Poranga (Nossa Terra
Linda), de muitas águas, matas, bichos e encantarias.
Voltando ao encontro que
presenciei pela manhã entre os dois Parentes Pescadores Tupinambá, Bijupirá e
Baiacu, no dia anterior (domingo) combinaram logo cedo de na segunda colocarem
a jangada (ygapeba) no mar para pescarem. Sei disso porque estava conversando
com os dois quando marcaram a pescaria.
Ao se encontrarem conversaram:
– “Katuara Parentes”,
disse Bijupirá Tupinambá.
– “Katuara”, responderam
Baiacu Tupinambá e Casé Angatu.
Bijupirá e Baiacu olharam
então para o mar, miraram o céu, sentiram o vento e continuaram a prosa:
– “Rapaz ... hoje o mar
(paranã) tá retado de agitado (yaíba) e a maré cheia (yúra pungá)”, falou
Bijupirá Tupinambá.
– “Oxeee ... tu não viu
ontem não ... foi a noite (pytuna) todinha de relâmpago (amamberaba) ... o céu
(ybaca) ficou claro ... parecia São João”, comentou Baiacu Tupinambá.
– “Foi mesmo ... do jeito
que tá aí não tem como botar a jangada (ygapeba) no mar (paranã)” – afirmou
Bijupirá Tupinambá.
– “Justo agora que é
época de pegar o pirá (peixe) e conseguir uns trocados”, ponderou Baiacu
Tupinambá
– “Tupã sabe o que faz e
Janaina também ... bora molhar a palavra que a chuva (amana) já tá caindo forte
(atã) e pelo jeito vai demorar passar”, considerou prevendo Bijupirá Tupinambá
– “Isto se não virá
tempestade (ybytuaíba)... bora…”, pressentiu Baiacu Tupinambá concordando com a
sugestão de molhar a palavra (*1)
Foto: Jangada (Ygapeba)
Indígena. O Povo Tupinambá mantém a pesca artesanal ancestral. Data: sem
datação. Autoria: Mauricio Pinheiro.
E aquela chuva virou mesmo tempestade como intuíram Bijupirá e Baiacu, demorando cerca de seis dias para estiar (de 06 até 12 de dezembro de 2021). Os meus Parentes tinham razão em suas previsões feitas através da percepção originária, gerada das vivências atemporais como pescadores indígenas e da sabedoria ancestral.
Porém, não sabíamos que o
temporal seria fora do comum em sua intensidade, demorando um tempo maior para
abrandar. Até então não tínhamos noção que aquela tempestade era gerada por um
ciclone subtropical denominado pela Marinha do Brasil com o nome em tupy de
“Ubá” (*2).
Do mesmo modo, como
poderíamos prever que o lugar onde
morávamos (Terra Indígena Tupinambá de Olivença – Ilhéus) seria uma das áreas
afetadas pelas tempestades, bem como toda região Sul, Extremo Sul, Oeste,
Sudoeste da Bahia e Norte de Minas Gerais. Para piorar sem ainda nos
recuperarmos após a passagem do ciclone subtropical Ubá fomos afetados
novamente por tempestades cerca de 11 dias depois entre os dias 23 até 25 de
dezembro de 2021.
Os novos temporais,
segundo os especialistas em meteorologia, foram causados pelo fenômeno
climático chamado “La Niña” e o aumento da temperatura no oceano. Isto ocorreu
quando ainda terminava este texto e por isto precisei fazer sua atualização no
sentido de inserir a segunda onda de temporais que enfrentamos.
Por isto indago: será que
as agências e institutos meteorológicos e climatológicos não conseguiriam
prever eventos climáticos e meteorológicos extremos como os que nos abalaram?
Não seria possível emitir alertas e tomar medidas de precaução, reduzindo as
consequências? (*3)
Na mesma direção
questiono: são só os temporais os únicos responsáveis por afetarem as vidas das
pessoas, que geralmente são as mais carentes materialmente pelo país afora,
resultando em mortes, ferimentos, doenças e perdas do pouco que se tem? Ou será
que o capitalismo e seus mandatários também possuem responsabilidades?
As tempestades revelam a
Histórica e Estrutural Bio-Necropolítica do Bio-Necropoder Capitalista que o
Genocida radicalizou
Não é objetivo deste
texto responder conclusivamente à essas inquietações aqui enunciadas, mas
aventar possibilidades de ponderações. Além disso, essas indagações são geradas
pela indignação que surgem de pessoas como o autor deste texto que vivenciaram
e ainda vivenciam as sequelas das tempestades ocorridas entre os dias 06 a 12,
e 23 a 25 de dezembro de 2021.
Sei que dirão e com toda
razão: o atual governo negacionista do conhecimento, da pesquisa e da ciência
tem cortado verbas e investimentos também neste setor das previsões
meteorológicas e climatológicas. Sem dúvida isto tem ocorrido e possui relação
com as consequências geradas pelo “Ubá” e “La Niña”. É notória a nefasta
atuação genocida do governo fascista e negacionista que busca a deterioração
dos estudos, pesquisas e políticas públicas, especialmente quando favorecem a
população a exemplo do que ocorre nas áreas meteorológicas e
climatológicas.
A título de exemplo, em
setembro deste ano (2021) o governo federal interrompeu a atuação do Sistema
Nacional de Meteorologia – SNM, depois de quatro meses de sua criação. O SNM
tinha com intuito realizar com maior eficiência as previsões meteorológicas,
sendo coordenado pelo Instituto Nacional de Meteorologia - INMET (Ministério da
Agricultura), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE (Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovações) e Centro Gestor e Operacional do Sistema de
Proteção da Amazônia - CENSIPAM (Ministério da Defesa). Para piorar a falta de
perspectiva gerada pela suspensão do Sistema Nacional de Meteorologia vale
ressaltar que a interrupção foi encaminhada pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovações, e executada pela Secretaria Especial de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República – SAE.
Outra demonstração do
descaso do atual governo federal em relação à prevenção de “eventos climáticos
ou meteorológicos” ocorreu em junho/2021. Na ocasião os mandatários da
república deixaram sob ameaça de desligamento o supercomputador “Tupã” por
falta de recursos para sua manutenção e até para pagar a conta de luz (*4).
Essencial nas análises de dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos, o “Tupã” é de responsabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas
Especiais – INPE (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) e quase foi
desligado já em agosto de 2021. Porém, o desligamento do supercomputador ainda
continua previsto para o início do próximo ano (2022).
Mas não pensem que a
paralisação do Tupã foi adiada somente por causa da necessidade de prevenir a
população em relação aos “eventos climáticos ou meteorológicos extremos”.
Aparentemente o desligamento foi postergado porque o supercomputador também é
necessário para agricultura. Segundo Gilvan Sampaio, Coordenador Geral da
Ciências da Terra:
[...] sem um
supercomputador é quase impossível avançar com as previsões. "Não ter uma
máquina como essa significa que em médio e longo prazo nós ficamos estagnados.
E quem perde são os setores de agricultura, energia e defesa civil, justamente
por não ter um avanço para melhor antever uma seca ou episódio de chuvas
intensas. Nós perdemos essa capacidade de antecipar cada vez mais esses eventos
que tanto afetam a agricultura”, comenta. (*5)
Claro que não tem como
deixar de denunciar essas ações deliberadamente genocidas do atual governo
negacionista do conhecimento e que prejudica a população brasileira. A não
previsão eficiente de eventos climáticos como os que nos atingiu gera: mortes,
pessoas feridas, doenças, sofrimentos, perdas materiais do pouco que se tem.
Além disso, a política genocida não é uma novidade na forma como o atual
governo federal trata o povo, basta lembrar como atuou negando o enfrentamento
à Covid-19.
No entanto, mesmo
considerando o sucateamento de setores vitais para a população no sentido dos
estudos e previsões climáticas e meteorológicas, minha inquietação continua: o
Estado (em suas diferentes esferas: federal, estadual e municipal), a Marinha
do Brasil e o Sistema Nacional de Defesa Civil não foram informados sobre o
“Ubá” e “La Niña” pelas Agências/Institutos Meteorológicos/Climatológicos ainda
existentes e pertencentes aos órgãos públicos ou privados, bem como pelas
Universidades Públicas.
Agências, Institutos e
Instituições como: Instituto Nacional de Pesquisas Especiais – INPE (Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovações); Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
(Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento); Instituto de Energia e
Ambiente da USP – IEA/USP, Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de
Desastres Naturais – CEMADEN (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações);
Sistema Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, Centro
Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – CENAD (Ministério da Integração Nacional), Sistema
Nacional de Defesa Civil; Climatempo, MetSul – Meteorologia; entre outros.
Ou será que não é
possível mais realizar previsões meteorológicas e climatológicas como ocorreu
em 17 de abril deste ano (2021). Numa das publicações da página da Climatempo
daquele dia encontramos que estavam previstos temporais gerados por um ciclone
subtropical para o dia 19 de abril de 2021:
Novo ciclone subtropical
poderá se formar na costa brasileira: Os meteorologistas estão atentos a uma
nova área de baixa pressão atmosférica que começa a se desenvolver na costa de
São Paulo. [...] O sistema deve estar completamente formado na próxima
segunda-feira, 19 de abril [2021]. A Marinha do Brasil já emitiu um aviso de
acompanhamento desse sistema. Se esta baixa pressão atmosférica evoluir até uma
tempestade subtropical nos próximos dias, deverá ser batizada com o nome de
Potira [...], deixando o mar agitado em parte da costa do Sudeste e também do Sul
do Brasil.” (*6)
Antes de continuar
reafirmo que aqui apresento indagações e não conclusões finais até porque sou
leigo nesta área de previsões meteorológica e climatológica. Isto é, são
inquietações de quem vive numa das regiões onde ocorreram os efeitos do ciclone
subtropical “Ubá” e do fenômeno climático “La Niña” sem ter percebido a
divulgação ampla e incisiva de alertas, bem como de ações de prevenção. Não
obstante, se os avisos e as ações ocorreram e não percebi deixo aqui minhas
antecipadas desculpas pela falta de percepção o que em si já demonstra que não
foram amplamente divulgadas de forma incisiva.
Feita a ressalva acima e
voltando aos questionamentos: será que não tinha mesmo como prever a formação
do “Ubá” e os efeitos da “La Niña”, mesmo considerando os sucateamentos
efetuados pelo governo negacionista nesta área? Caso possível a previsão porque
não alertaram às populações das áreas que provavelmente seriam afetadas por
temporais e vendavais, evitando algumas das tragédias que resultaram em mortes?
Caso tenham avisado: por que esse alerta não foi amplamente divulgado ou
efetivado na forma de prevenção?
Por isso fui pesquisar os
dias anteriores ao “Ubá” e encontrei algumas informações no site da MetSul –
Meteorologia do dia 5 de dezembro de 2021. Ou seja, às vésperas da primeira
tempestade que nos afetou a MetSul – Meteorologia prognosticava: Ciclone com Trajetória
Atípica Durante a Semana na Costa Brasileira, o texto alertava:
Ciclone vai se formar na
costa brasileira e tende a percorrer uma trajetória atípica no Atlântico Sul. O
sistema deverá ser responsável ainda por chuva excessiva com uma condição perigosa
para inundações em alguns estados. [...] Na quarta (8/12/2021) a chuva seguiria
forte a intensa no Norte de Minas Gerais e no Espírito Santo com volumes altos
nos limites da Bahia com os dois estados. Na quinta (9/12/2021), as mesmas
regiões seguiriam com chuva forte a intensa em diferentes pontos e acumulados
diários isolados acima de 100 mm. Na sexta (10/12/2021), o quadro pouco se
altera no posicionamento das áreas de chuva mais volumosa. [...] Os volumes
nestas áreas podem facilmente superar os 200 mm nos próximos sete dias com
registros isolados mesmo acima de 300 mm. Sob este cenário de precipitação,
será alto o risco de inundações repentinas e por transbordamento de rios, além
de alagamentos por chuva forte e possibilidade de deslizamentos em encostas.
(*7)
Ao que tudo indica o
próprio governo federal sabia do que poderia ocorrer. Numa entrevista ao Jornal
da CBN no dia 14/12/2021 o Ministro Rogério Marinho (Ministério do
Desenvolvimento Regional), contraditoriamente, informou que a “situação na
Bahia estava sendo monitorada desde 28 de novembro por meio do Sistema Nacional
de Prevenção, Enfrentamento e Ajuda a Desastres”. Rogério Marinho chegou a
ressaltar a atuação “conjunta com a Defesa Civil do estado, informando a
possibilidade de ocorrências de fortes chuvas, ações de prevenção e
deslocamento de pessoal para a região”.
Segundo o Ministro:
Nós informamos o Estado
da Bahia que haveria fortes ocorrências de chuvas, informamos os municípios que
poderia acontecer o problema, fizemos um trabalho ligado a questão da prevenção
porque você precisa avisar com antecedência [...] deslocamos nosso pessoal para
o estado da Bahia já nesta data [provavelmente ele se refere ao dia
28/11/2021], fizemos reunião com os prefeitos e com o coordenador da Defesa Civil
da Bahia desde essa época. Nós já estávamos lá com um Centro de Operações
montado na cidade de Itamaraju [...]então o governo está fazendo sua parte.
(*8)
Porém, pelo jeito as
ações federais não foram suficientes ou não tiveram alcance desejado tanto na
prevenção do ciclone e posteriormente na tentativa de amenizar suas
consequências. Como morador aqui numa das regiões afetadas pelo “Ubá” não
acompanhei nenhum alerta e muito menos essas medidas anunciadas pelo Ministro
antes do dia 06/12/2021, durante as tempestades e depois da passagem do
ciclone. Insisto: caso isto tenha ocorrido, por favor, corrijam minha
informação.
Não obstante, os números
resultantes dessa primeira tempestade falam por si só.
Sobe o Número de Vítimas
pela Chuva Extrema na Bahia: Dados da Defesa Civil Estadual mostram que as
intensas precipitações atingiram quase 300 mil pessoas com milhares de
desalojados. A Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec)
confirmou no fim de semana de 18 e 19 de dezembro mais duas mortes em
consequências das fortes chuvas que atingem o Sul do estado desde o início de
novembro. Segundo o órgão estadual, ao menos 18 pessoas morreram e 276 ficaram
feridas em função dos eventos hidrológicos (enxurradas, alagamentos, inundações
e deslizamentos) que já afetaram ao menos 299.360 pessoas. Até ontem, 63
cidades baianas já tinham decretado situação de emergência. Com base em
informações fornecidas por prefeituras baianas, a Sudec calcula que, até ontem,
15.483 pessoas tinham sido desalojadas, famílias que tiveram que deixar suas
casas temporariamente e se hospedar na casa de parentes, amigos ou hotéis, e
4.453 desabrigadas, tendo que ser acolhidas em abrigos públicos ou locais
improvisados (*9).Ainda sobre as medidas posteriores ao ciclone vale destacar
que o governo federal até o dia 14/12/2021 tinha liberado somente R$ 5,8
milhões para seis das 63 cidades então em situação de emergência na Bahia
(*10). Para mensurar o quanto é diminuto
este valor basta dizer que a mansão do senador Flávio Bolsonaro (PL),
localizada em bairro de luxo de Brasília, custou R$ 6 milhões.
Outra demonstração do
descaso no amparo às populações atingidas pelas tempestades transparece num
comunicado emitido pela Prefeitura de Jucuruçu (uma das cidades baianas mais atingidas
pelas tempestades) no dia 12/11/2021. Constrangida a prefeitura local pediu
desculpas aos moradores do lugar por não conseguir auxiliar todas as pessoas
que foram afetadas:
“Nossa amada Jucuruçu foi
pega de surpresa, no meio da noite, com uma enchente que desabrigou diversas
famílias. As águas das fortes chuvas destruíram sonhos, nosso comércio, casas e
bens materiais”. (*11)
De acordo com o
comunicado da Prefeitura de Jucuruçu a cidade “foi pega de surpresa”. Portanto,
mesmo as autoridades de Jucuruçu não foram alertadas sofre as tempestades. Caso
isto tenha ocorrido o alerta não foi o suficiente para amenizar os efeitos dos
temporais.A mesma situação se repetiu em relação ao fenômeno climático chamado
“La Niña” entre os dias 23 e 25 de dezembro de 2021, tornando o quadro em nossa
região mais devastador ainda. Conforme o portal UOL, o Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais - CEMADEN (Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovações) desde o dia 20 de dezembro/2021 emitiu três alertas de
riscos para nossa região que foram compartilhados com o Centro Nacional de
Gerenciamento de Riscos e Desastres – CENAD
(Ministério da Integração Nacional), responsável pelos contatos com as
Defesas Civis dos estados e municípios.
O primeiro desses
comunicados do CEMADEN era até contundente:
"Risco de novas
inundações e deslizamentos de terra na Bahia nos próximos dias", o
documento diz: "muito provável ocorrência de chuvas volumosas,
especialmente entre os dias 24 e 25 de dezembro, [que] permitem identificar um
ALTO RISCO de ocorrência de novos deslizamentos de terra e inundações"
(*12)
No entanto, outra vez ao
que tudo indica os alertas não foram amplamente divulgados e nem as precauções
tomadas. Para José Marengo, Coordenador-Geral de Pesquisa e Desenvolvimento do
CEMADEN:
Os alertas servem para
minimizar os danos, não é possível zerá-los. Mas não fossem esses alertas, o
resultado seria muito pior. Temos ainda cidades não preparadas, ou sem a Defesa
Civil para receber essa informação. E há uma dificuldade histórica em retirar
moradores de áreas de risco. (*13)
Nas entrelinhas da fala de
Marengo aparece um dos pontos principais para pensarmos as razões estruturais
pelas quais os alertas não foram/são oferecidos e nem as medidas de
preocupações tomadas: “dificuldade histórica em retirar moradores de áreas de
risco”. Isto é, a histórica lógica de morte dos que comandam o sistema
capitalista que pensam em custos e não em vidas.
Em outras palavras:
bio-necropolítica do bio-necropoder onde se mede as despesas e não as vidas.
Porém, retomaremos e assunto mais adiante. Para o momento vale realçar que essa
estrutural e histórica forma de (não) agir tem custado vidas, aumento da
pobreza e sofrimentos imensuráveis como ocorreu e ainda ocorre com às
populações do sul, extremo sul, oeste e sudoeste da Bahia e do norte de Minas
Gerais.
De acordo com os dados
apresentados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil - SUDEC para o
dia 31 de dezembro 2021, o número de mortos chegou à 25, com 517 pessoas
feridas e 643 mil pessoas atingidas pelas tempestades. Agora são mais de 91 mil
pessoas desabrigadas ou desalojadas, envolvendo 151 cidades em situação de
emergência. Esses números correspondem aproximadamente a 30% das cidades
baianas em estado de emergência. Só em Itabuna o número de atingidos pelas
tempestades, segundo a Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza,
envolveu 30 mil pessoas – cerca de 30% da população.
Como da primeira vez, o
“auxílio” oferecido pelo governo federal é irrisório diante das necessidades.
Um dos supostos “auxílios” oferecido é no mínimo uma crueldade com o Povo Baiano
e dos outros estados por que o governo federal “liberou” por medida provisória
(MP) R$ 200 milhões para reconstruir estradas atingidas pelas chuvas. O
problema é que esse valor é pra ser dividido por cinco estados: Bahia,
Amazonas, Minas Gerais, Pará e São Paulo.
Esse “auxílio” ou mesmo
disponibilizar o fundo de garantia que pertence aos próprios trabalhadores são
ações que demonstram mais uma vez a histórica e estrutural lógica da
bio-necropolítica do bio-necropoder dos que comandam o estado capitalista.
Claro que esse quadro é agravado pela atuação genocida do governo fascista.
Enquanto os temporais afetavam as nossas vidas, o presidente fascista estava de
férias no litoral catarinense.
Vale lembrar que mesmo
que as chuvas cessem ou diminuam fica o perigo de doenças, novos acidentes por
causa das estruturas abaladas das casas, prédios públicos, comerciais,
estradas, condições do solo, encostas e rios. Além disso, o perigo de doenças
aumenta em plena pandemia de Covid-19 e do vírus da influenza, tais como:
leptospirose , hepatite A, hepatite E, doenças diarreicas, febre tifoide,
cólera, dengue.
Como explica a Fundação
Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, além da necessidade de alertar a população
para eventos como o “Ubá” são necessárias medidas estruturais efetivas após
manifestações climáticas como a que ocorreu:
[...] um evento climático
ou meteorológico extremo resulta de uma séria interrupção do funcionamento
normal de uma comunidade ou sociedade, afetando seu cotidiano. Essa paralisação
abrupta envolve, simultaneamente, perdas materiais e econômicas, assim como
danos ao ambiente e à saúde das populações por meio de agravos e doenças que
podem causar mortes imediatas e posteriores. Uma ocorrência do gênero torna o
grupo afetado incapaz de lidar com a situação utilizando os próprios recursos,
o que pode ampliar os prejuízos para além do lugar de sua eclosão. (*14)
Motyrõ: o Povo oferecendo
Caminhos na Autoconstrução Coletiva de suas Vidas, resistindo e (re)existindo
ao capitalismo
Ciente desse quadro
apresentado pela FIOCRUZ um outro questionamento surge: por que não são
efetuadas medidas estruturais preventivas antes mesmo de eventos limáticos ou
meteorológicos extremos acontecerem? Não estou aqui tratando de remoções
forçadas de famílias ou de pessoas das chamadas áreas de risco. O que assinalo
é construir alternativas de forma participativa para atender as perspectivas de
vida e habitacionais dos que vivem em locais de risco e de toda a população
despossuída de riqueza material.
Um bom exemplo neste
sentido vem da cabeleireira e artesã Samara Ribeiro, moradora de Itabuna que
teve sua casa destruída pela cheia do Rio Cachoeira (principal rio que corta
aquela cidade) durante as últimas tempestades. Samara junto com cerca de 242
pessoas de 82 famílias precisou se abrigar no Parque de Exposições municipal
nas baias que comportam animais durante exposições. Após protestos dos
abrigados a prefeitura local procurou transferir as pessoas para Universidade
Federal do Sul da Bahia (UFSB). Porém a cabeleira e artesã foi uma das pessoas
que se recusaram a sair do Parque de Exposições porque:
Apesar dos riscos, ela
afirma que não vai para a UFSB porque é proibido que ela leve os três porcos
que conseguiu salvar durante a enxurrada. Além disso, ela, que teve a casa e o
comércio do marido destruídos, afirma que no abrigo da faculdade é necessário
cumprir regras como não sair do local depois das 18 horas. “Já não basta tudo
que estamos vivendo e ainda precisamos cumprir regras em abrigos? Eu que não
vou ficar aprisionada”, afirmou. Samara também afirma que a faculdade é longe
do lugar onde reside e que não quer ficar longe dos seus animais. Além dela, o
marido, duas filhas e crianças e outros parentes estão abrigados no parque.
(*15)
Insisto: é necessário
construir coletivamente e de forma participativa caminhos para moradia popular
gratuita, atendendo as perspectivas de vida dos que habitam. Tem que ser
gratuita porque senão não é popular.
Não se trata de
implementar práticas históricas de exclusão das camadas populares da população.
Em dois dos meus livros (“Nem Tudo Era italiano – São Paulo e Pobreza” e
“Identidade Urbana e Globalização”), discutindo especificamente a cidade de São
Paulo e Guarulhos, analiso como os donos do poder político e econômico usam os
discursos de urbanidade, segurança, higiene, combate às moradias de risco para
implementar práticas de limpezas socioculturais, expulsões e exclusões.
São exemplos históricos
neste sentido o combate à cortiços, favelas, moradores em situação de rua,
habitações em áreas consideradas irregulares, de risco, perseguições ao
comércio popular, diferentes formas de trabalhar e expressar tradições
socioculturais. (*16)
O caminho que assinalo é
outro porque parte do princípio da construção participativa de soluções para a
habitação popular e criação de infraestruturas atendendo as perspectivas de
vidas e vivências das pessoas. Soluções por vezes já existentes nas formas como
o próprio povo constrói suas moradas e vivências, resistindo às imposições e
(re)existindo em suas tradições.
Assim, tomando como
exemplo Ilhéus, município onde fica a Terra Indígena onde moro e que também foi
atingida pelo ciclone subtropical “Ubá” faço as ponderações a seguir, seguindo
o levantamento feito pelo site da Câmara Municipal da cidade:
Números estimados pela
Defesa Civil apontam que, hoje, residem nos altos e morros de Ilhéus 17 mil
famílias em áreas de anormalidade (sem regulamentação de imóveis e onde sequer chegam
serviços essenciais), 5 mil famílias em áreas de risco e mais 20 mil famílias
em áreas de morro. Em todos estes locais há necessidade de intervenções para
garantir a segurança dos seus habitantes. Dos 45 altos e morros, apenas 12 têm
acessibilidade de veículos com serviço de transporte público, mesmo assim de
forma precária. A maioria destas localidades conta apenas com escadarias. (*17)
Desta forma, feito o
levantamento da situação cabe a criação de políticas públicas participativas
junto com as comunidades mencionadas para enfrentar os riscos a que estão
submetidas. As intervenções não podem ser práticas unilaterais do poder público
e sim formas conjuntas respeitando as populações.
Aliás, as ações contando
com a participação popular nas decisões estão previstas pela Lei Federal No.
10.257, de 10 de julho de 2001. Chamada de “Estatuto da Cidade” essa Lei tem 20
anos e assinala que as cidades deveriam possuir: um planejamento participativo;
função social da propriedade (os imóveis precisariam servir para moradia,
comércio, lugar de trabalho); estudo de Impacto Ambiental e Social.
Ainda conforme o
“Estatuto da Cidade” é preciso garantir: [...] o direito à terra urbana, à
moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras
gerações. (*18)
Do mesmo modo, pensar e
agir assim não se trata de uma utopia ou devaneio impraticável. Um exemplo de
ações pensando na moradia das camadas populares da população de forma
participativa foi a atuação da prefeita Luiza Erundina na cidade de São Paulo
entre 1989 e 1992. Em sua gestão a prefeita desenvolveu o Programa de
Construção por Mutirão e Autogestão: “os mutirões foram pensados como solução
habitacional de baixo custo onde os próprios ‘mutirantes’” num sistema de
“autogestão eram responsáveis pela construção da unidade e também pela
administração do empreendimento”. (*19)
Vale observar que o
mutirão é uma palavra de origem tupy: potyrom ou motyrõ que significa “pôr as mãos
juntas, trabalhar juntos, trabalho em comum". Alguns chamam este processo
de Arquitetura Vernacular, Bioconstrução ou Popular. Prefiro chamar essa forma
de construir de Manejo da Autoconstrução Coletiva Originária ou Popular. Um
manejo que depende de condições geográficas, climáticas, aspectos
socioculturais específicos.
Os Povos Indígenas sempre
praticaram essa forma de construir suas habitações. A uka (oca) onde moro na
Aldeia Gwarïnï Taba Atã na Terra Indígena Tupinambá de Olivença (Ilhéus/Bahia)
foi assim construída, bem como as demais. As imagens que seguem demonstram a
Comunidade da Aldeia Itapuã também daqui do Território Tupinambá de Olivença
construindo em Mutyrõ e na tradição da taipa a sede da nova Escola Estadual
Indígena Indígena Amotara. (*20)
Existem mesmo os que
atribuem a culpa dos eventos como o “Ubá” e “La Niña” às explicações genéricas
universais, tais como:
– "o que ocorreu é
culpa do próprio ser humano".
– "o culpado é do
juruá ou cari".
– "é a natureza se
vingando".
Isto quando não se
responsabiliza as vítimas com frases como:
– "também ... quem
mandou morar naquele lugar".
– "são essas pessoas
que mais sofrem as que mais degradam a natureza".
As vezes percebo a falta
de ponderações mais profundas e estruturais mesmo entre os que lutam por
direitos, participam de movimentos sociais, identitários e partidos de
esquerda. Isto transparece quando as pessoas vitimadas por eventos climáticos
ou meteorológicos extremos aparentam não serem organizadas em movimentos
sociais e/ou não se autodeclaram em algumas das identidades possíveis ou
idealizadas. São as pessoas que estão fora das pautas mesmo dos que militam em
movimentos sociais e identitários.
Como escrevi antes, aqui
em Ilhéus uma grande parte dos que foram vitimados pelas tempestades (melhor
seria: descaso do estado) é composta por pessoas moradoras em áreas de risco.
Pessoas que não estão em nenhum território considerado indígena ou quilombola e
não necessariamente se autodeclararem ou se organizarem em movimentos sociais e
identitários. Mesma ponderação acredito que vale para as diferentes pessoas
atingidas pelo “Ubá” e “La Niña” nas diversas áreas do sul, extremo sul, oeste
e sudoeste da Bahia e no norte de Minas Gerais.
Porém, questiono: quais
as origens étnicas e sociais da maioria das pessoas vitimadas e esquecidas pelo
estado aqui nas áreas afetadas? Quais as ancestralidades daquelas e daqueles
que moram em áreas de risco e que são despossuídas de riquezas materiais?
Como pondera Frantz
Fanon, o caminho é refletir sobre a necessária decolonização. (*21) Isto é,
precisamos enfrentar um processo de culpabilização dos próprios pobres pela
pobreza. Combater psicopatologias que tentam introjetar nas subjetividades uma
rede de autorresponsabilização por não se adaptarem a chamada “civilização” ou
a posturas idealizadas. Posições que tiram de foco o estrutural processo de
colonização, enriquecimento, racismo e desigualdade social do sistema
capitalista.
Assim, na minha
percepção, são expressões da colonialidade assinalar que a culpa da pobreza é
dos próprios pobres; responsabilizar pelos eventos naturais extremos o “ser
humano” como uma categoria genérica universal; atribuir à vingança da natureza
acontecimentos como o ciclone subtropical “Ubá” e “La Niña”; não ter empatia ou
solidariedade aos que não se organizam ou se identificam com as formas como
desejamos, mesmo sendo excluídos.
Precisamos ser
solidárias/solidários e unidas/unidos na luta resistente e (re)existente de
todas as pessoas marginalizadas e excluídas pelo estado, grupos que possuem o
poder econômico/político e pelo capitalismo.
Na minha compreensão
eventos extremos como o “Ubá” e “La Niña” têm relação com a existência do
capitalismo. Segundo o climatologista Francisco Eliseu Aquino, Departamento de
Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):
“Neste momento, não
conecto diretamente as mudanças climáticas com esse evento extremo",
pondera. "Mas, num planeta mais quente, eventos extremos tornam-se mais
frequentes, com a formação de depressões subtropicais como esta [vista na
Bahia]", finaliza. (*22)
A contínua exploração da
natureza, bem como o aumento da já elevada desigualdade social são fatores que
provocam desequilíbrios naturais e cada vez mais colocam pessoas em situações
de perigo. Pessoas que geralmente pertencem as camadas populares da população e
são vítimas dos que estão a frente de instituições, empresas, organizações,
estados e corporações. Dirigentes adoecidos de wetiko - que é uma palavra usada
“por grupos indígenas norte-americanos” para denominar um “patógeno [que]
engana seus hóspedes, levando-os a acreditar que obter a força vital dos demais
(plantas, animais, pessoas etc.) é uma forma lógica e racional de existir. Em
outras palavras, é o vírus do egoísmo (…) (*23)
Cada dia mais a
destruição em nome do capital vem devorando as matas, bichos, povos e águas de
tudo quanto é lugar. Essa fome insaciável tem vários nomes de empresas,
pessoas, estados, corporações, instituições, organizações. Nomes que tentam se
disfarçar com o “manto” nada sagrado de civilização e do desenvolvimentismo. Por
vezes também aparecem disfarçados em “empreendedorismos”, “sustentabilidade”,
“ecologismo” e “ambientalismo de resultado”.
Novos questionamentos
surgem então: como acreditar nas resoluções da Conferência do Clima (COP26) no
enfrentamento da “urgência ambiental” sem discutir o capitalismo que em si é
devastador da natureza? Por que também não discutir o fim da exploração do
homem pelo homem, do trabalho humano e das desigualdades que geram as ocupações
de risco? Por que não debater o fim das desigualdades sociais e econômicas?
Porque também não falam da crise do capitalismo que gera governos fascistas,
ditatoriais e falsos democratas.
Os seres humanos que
comandam a destruição estrutural e sistemática da natureza possuem nomes e
dirigem política e economicamente o capitalismo em seu plano estatal e nos
setores privados. A Natureza em nossa concepção não é vingativa, mas está em
sua sabedoria nos avisando para pararmos as atuações dos que estruturalmente
dizimam o meio natural e cometem os ecocídios.
Refletimos que se não
enfrentarmos a doença do capital, devastadora da Natureza e dos direitos
humanos, novos eventos climáticos ou meteorológicos extremos, patógenos e
comorbidades como a covid-19 podem surgir ameaçando a vida como um todo. Não
entendam essas palavras como manifestações distópicas, melancólicas,
conformistas, fatalistas. Sou Indígena e como os Povos Originários resistimos e
(re)existimos mais de cinco séculos de invasões, genocídios, etnocídios e
ecocídios.
Por isto questionamos no
início deste texto: será que foram só os temporais que abalaram e ainda
acometem as populações despossuídas de riqueza material do sul, extremo sul,
oeste e sudoeste da Bahia e no norte de Minas Gerais?
Os chamados eventos
climáticos e meteorológicos extremos são os únicos responsáveis por afetarem as
vidas, geralmente das pessoas mais carentes materialmente pelo país afora,
resultando em mortes, ferimentos, doenças e perdas do pouco que se tem? Ou será
que o capitalismo e seus mandatários também possuem responsabilidades?
Reafirmo que precisamos
ser solidárias/solidários e unidas/unidos nas lutas resistentes e
(re)existentes das pessoas que não são organizadas em movimentos sociais e/ou
que não se autodeclaram em algumas das identidades possíveis ou idealizadas.
Meu caminhar é de inspiração Zapatista e de união à todes que sofrem e lutam
contra o capital no cotidiano. Precisamos lutar por um mundo ondem cabem vários mundos, com
justiça social, respeitando as diferenças.
Quando perguntaram ao
zapatista Subcomandante Marcos porque cobria o rosto, ao finalizar sua resposta
ele disse ...
“Marcos é: todas as
minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta!
Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguentar.
Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o
poder e as boas consciências, este é Marcos. A vezes é necessário cobrir o
rosto para mostrar a realidade”.
Os potyrom, motyrõ,
mutirões populares são expressões desses caminhos de construção coletiva,
autônoma e às margens do poder do estado. Na ausência do estado e do capital o
povo não cansa de nos oferecer exemplos de resistências e (re)existências à
bio-necropolítica que mantém o bio-necropoder do capitalismo. Alguns desses
caminhos vêm durante estes momentos de sofrimento como ocorre aqui em terras
baianas.
O Povo da cidade de
Vereda (BA) realizou um motyrõ e improvisou uma ponte com pedras e troncos para
liberar o acesso daquele município no sentido de veículos passarem “levando
mantimentos e resgatando moradores no município de Jucuruçu (BA)”, ilhados por
causa das enchentes dos rios. (*24) Já algumas pessoas moradoras de Coaraci e
Itapitanga aqui no Sul da Bahia fizeram uma "corrente humana" para “poder
transportar doações a pessoas afetadas pelas fortes chuvas, depois que um
trecho da BA-561 se rompeu ( …)” (*25)Motyrõs populares que fazem lembrar de
algumas das canções que cantamos em nossos porancys e torés:
Uma noite não é nada
Vamo vê se nós acaba
Com resto da empreitada
No romper da madrugada
Vamo vê se nós acaba
Com resto da empreitada
Notas
1. Os nomes dos Parentes
que aparecem neste diálogo foram recriados para presente narrativa no sentido
de resguardar os mesmos. A conversa foi aqui reproduzida com algumas alterações
até porque estava guardada na memória que as vezes é etérea.
2. O nome “Ubá” dado pela Marinha do Brasil ao ciclone subtropical que nos afetou é de origem tupy e significa Canoa. A Marinha utiliza uma série de nomes indígenas para denominar “eventos climáticos ou meteorológicos extremos” como o que ocorreu: Arani (tempo furioso); Bapo; Cari (homem branco); Deni (tribo indígena); Eçaí (olho pequeno); Guará (lobo do cerrado); Iba (ruim); Jaguar; Kurumí (menino); Mani (deusa indígena); Oquira (broto de folhagem); Potira (flor); Raoni (grande guerreiro); Ubá (canoa indígena); Yakecan (o som do céu) (In: CLIMATEMPO, Clima e Previsão do Tempo. Novo ciclone subtropical poderá se formar na costa brasileira. Acesso em: https://www.climatempo.com.br/noticia/2021/04/17/novo-ciclone-subtropical-podera-se-formar-na-costa-brasileira-9190)
3. “Evento climático e
meteorológico extremo” é forma como os especialistas em climatologia e
meteorologia chamam acontecimentos como o ciclone subtropical “Ubá” que nos
atingiu.
4. O nome Tupã faz menção
a uma das manifestações da nossa cosmologia indígena.
5. NOTÍCIAS AGRÍCOLAS.
Supercomputador Tupã não será desligado em 2021: Brasil precisa atualizar
máquina, mas previsões são mantidas, diz INPE.
Acesso em: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/clima/294364-supercomputador-tupa-nao-sera-desligado-em-2021-brasil-precisa-atualizar-maquina-mas-previsoes-sao-mantidas-diz-inpe.html#.YbnZ9b3MLIU
, 05/08/2021.
6. CLIMATEMPO, Clima e Previsão do Tempo. Novo
ciclone subtropical poderá se formar na costa brasileira. Acesso em: https://www.climatempo.com.br/noticia/2021/04/17/novo-ciclone-subtropical-podera-se-formar-na-costa-brasileira-9190 17/04/2021
7. METSUL – Meteorologia.
Ciclone com Trajetória Atípica Durante a Semana na Costa Brasileira. Disponível
em: https://metsul.com/ciclone-com-trajetoria-atipica-durante-a-semana-na-costa-brasileira/
5/12/2021.
8. CBN, Jornal da.
Ministro descarta necessidade de conversa com governador da Bahia sobre estragos da chuva. Acesso em: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/361227/ministro-descarta-necessidade-de-conversa-com-gove.htm
13/12/2021,
9. METSUL – Meteorologia. Sobe o Número de Vítimas pela Chuva Extrema na Bahia. Disponível em: https://metsul.com/sobe-o-numero-de-vitimas-pela-chuva-extrema-na-bahia/ 19/12/2021.
10. FOLHA/UOL,
Cotidiano. Após temporal na Bahia,
famílias reviram lama e temem por futuro. Acesso em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/12/apos-temporal-na-bahia-familias-reviram-lama-e-temem-por-futuro.shtml
14/12/2021.
11. Jucuruçu foi uma das
cidades mais abaladas pelas tempestades onde “mais de 500 famílias foram
desabrigadas. Casas e pontes foram arrastadas e as equipes de saúde tiveram que
transferir o atendimento à população para um local provisório depois que o
prédio da Secretaria Municipal de Saúde foi totalmente danificado”. (In: METSUL
– Meteorologia. Sobe o Número de Vítimas pela Chuva Extrema na Bahia.
Disponível em: https://metsul.com/sobe-o-numero-de-vitimas-pela-chuva-extrema-na-bahia/
19/12/2021.
12. UOL, Portal. Bahia:
órgão federal emitiu 3 alertas de risco de inundações. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/12/28/orgao-federal-emitiu-alertas-mas-chuva-superou-todas-as-previsoes-na-bahia.htm?cmpid=copiaecola
28/12/2021.
13. UOL, Portal. Bahia:
órgão federal emitiu 3 alertas de risco de inundações. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/12/28/orgao-federal-emitiu-alertas-mas-chuva-superou-todas-as-previsoes-na-bahia.htm?cmpid=copiaecola
28/12/2021.
14. FIOCRUZ, Fundação
Instituto Oswaldo Cruz. Análise de Situação em Clima e Saúde. Rio de Janeiro:
Fiocruz, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica -
Icict, Ministério da Saúde, Organização Panamericana de Saúde - Opas, 2017.
Disponível em: https://climaesaude.icict.fiocruz.br/tema/eventos-extremos-0
2017.
15. CORREIO 24 HORAS,
Após cheia do Rio Cachoeira, 82 famílias se alojam em baias de animais em
Itabuna. Disponível em: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/apos-cheia-do-rio-cachoeira-82-familias-se-alojam-em-baias-de-animais-em-itabuna/
31/12/2021.
16. Os dois livros de
minha autoria que foram mencionados são: ANGATU, Casé (SANTOS, Carlos José F.
dos). Nem Tudo Era Italiano – São Paulo e Pobreza na virada do século
(1870-1915). São Paulo: Annablume/FAPESP, 4a. Edição 2018; & ANGATU, Casé (SANTOS, Carlos José F. dos).
Identidades Urbanas e Globalização – a formação dos múltiplos territórios em
Guarulhos/SP. São Paulo: SINPRO/GRU, 2006.
17. ILHÉUS, Câmara
Municipal. Comissão dos Altos e Morros de Ilhéus Visita o Amparo, Legião e
Soledade. Disponível em: https://www.camarailheus.ba.gov.br/Site/Noticias/noticia-071220212112261673-COMISS-O-DOS-ALTOS-E-MORROS-DE-ILH-US-VISITA-O-AMPARO-LEGI-O-E-SOLEDADE
07/12/2021
18. BRASIL, República
Federativa do. Estatuto da Cidade - Lei
no 10.257, de 10 de julho de 2001 que regulamenta os arts. 182 e 183 da
Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá
outras providências. Disponível em: https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/101340/estatuto-da-cidade-lei-10257-01
19. “Implementado pela
Prefeitura de São Paulo em parceria com 108 Associações Comunitárias e 24
entidades de assessoria técnica, o Programa beneficiou cerca de 60 mil pessoas.
Os recursos foram oriundos do Fundo Municipal de Habitação e do Ministério das
Cidades”. (In: CEDEM, Centro de Documentação e Memória da UNESP. Habitação
social da prefeita Erundina é referência internacional. Disponível em: https://www.cedem.unesp.br/#!/noticia/173/habitacao-social-da-prefeita-erundina-e-referencia-internacional/
29/11/2016).
20. As fotos fazem parte
do seguinte estudo: AYRA TUPINAMBÁ, Vanessa Rodrigues dos Santos. Aupaba Anamã
Jycayba: Mbaecuaba-Eté Mboessaba Tupinambá Amotara – Taba Itapuã = Território E
(Re)Existência Na Educação Escolar Indígena Tupinambá Decolonial: Colégio
Estadual Indígena Tupinambá Amotara (Aldeia Itapuã – Olivença –Ilhéus/BA).
Terra Indígena Tupinambá: Dissertação de Mestrado apresentada junto ao
PPGER/UFSB. Disponível em: file:///C:/Users/casea/Downloads/Vanessa_R_Santos_-_Verso_Final_28_12_2020_1%20(3).pdf
2020.
21. FANON, F. Os
Condenados da Terra. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2006.
22. BBC MEWS. O que
causou tempestade atípica que arrasou o sul da Bahia. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59617328 , 10/12/2021.
23. REDAÇÃO, Outras
Palavras. “Wetiko, a grande doença psíquica do Ocidente?”. In: Outras Palavras.
Disponível em: https://outraspalavras.net/sem-categoria/wetiko-a-doenca-psiquica-do-ocidente/
21/01/2020.
24. UOL, Cotidiano.
Mutirão improvisa ponte com pedra para liberar acesso a cidade ilhada na BA.
Acesso em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/12/13/moradores-e-prefeito-improvisam-ponte-para-chegar-a-municipio-ilhado-na-ba.htm?cmpid=copiaecola&cmpid=copiaecola
13/12/2021.
25. UOL, Cotidiano. BA:
Moradores fazem 'corrente' para levar doações após cratera abrir em via.
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/12/28/moradores-fazem-corrente-para-levar-doacoes-na-bahia.htm?cmpid=copiaecola
28/12/2021.
Sobre o Autor: Casé
Angatu - Indígena e morador no Território Tupinambá em Olivença (Ilhéus/BA) na
Taba Gwarïnï Atã – numa das áreas afetadas pelas tempestades causadas pelo
ciclone subtropical Ubá que abalou as populações do Sul, Extremo Sul, Oeste,
Sudoeste da Bahia e Norte de Minas Gerais. Leciona no Programa de Pós-Graduação
em Ensino e Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Sul da Bahia
(PPGER-UFSB) e na Universidade Estadual de Santa Cruz – (UESC/Ilhéus/BA).
Pós-Doutorando em Psicologia na UNESP/Assis/SP; Doutor pela Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP); Mestre em
História pela PUC/SP; Historiador pela UNESP; autor dos livros: Nem Tudo Era
Italiano – São Paulo e Pobreza na Virada do Século: 1890-1915 (4a. Edição –
2018); Identidades Urbanas e Globalização: constituição dos territórios em
Guarulhos/SP (2006); um dos Autores dos Livros: Índios no Brasil: Vida, Cultura
e Morte (2018); A Lei 11.645/08 nas artes
e na educação: perspectivas indígenas e afro-brasileiras (2020); Dossiê:
De/S/Colonização Estética: Saberes Tradicionais, Artes, Dissidências (2021);
Literatura comparada, ciências humanas, cultura, tecnologia. (2021).
A Coluna Imbaú é um
espaço aberto no Correio da Cidadania junto de organizações e indivíduos
indígenas de 13 etnias diferentes, com a finalidade de divulgar as produções e
o pensamento dos povos originários brasileiros e suas pautas.
CONTRIBUIÇÕES
REDE UESC SOLIDÁRIA - SOS
SUL DA BAHIA
A UESC-SOLIDÁRIA - SOS
Sul da Bahia é uma ação gerida pela: AFUSC (Sindicato dos Funcionários
Administrativos da UESC); ADUSC/ANDES (Associação de Docentes da UESC /
Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior);
Representantes Discentes; DCE-Carlos Marighella; com apoio da PROEX
(Pró-Reitoria de Extensão da UESC). A UESC (Universidade Estadual de Santa
Cruz) fica entre Ilhéus e Itabuna e atende pessoas de várias cidades do Sul da
Bahia.
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Rafael Bertoldo dos
Santos
(OBS: o nome que aparece
na conta PIX é do Presidente da AFUSC - Sindicato dos Funcionários
Administrativos da UESC)
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