sexta-feira, 6 de maio de 2022

Zion Real Estate: saiba quem é a empresa que quer construir a Ferrogrão


Foto: Munduruku barram audiência sobre ferrovia que pode impactar seu território. 2017. Créditos: Barbara Dias/ Cimi Norte 2.

Zion Real Estate: saiba quem é a empresa que quer construir a Ferrogrão (Especial para o Correio da Cidadania

Carro chefe do Mi­nis­tério da In­fra­es­tru­tura (Minfra), pro­jeto de cons­trução de novas fer­ro­vias no Pará não ob­teve su­cesso em Ro­adshow in­ter­na­ci­onal e acabou des­per­tando o in­te­resse de uma única e pe­quena em­presa na­ci­onal de cons­trução de mo­ra­dias, sem ca­pital, re­cursos ou his­tó­rico para a re­a­li­zação de mega pro­jetos de lo­gís­tica. Im­pactos sobre Terras In­dí­genas e áreas de con­ser­vação, e a ju­di­ci­a­li­zação de­cor­rente de ambas, podem ter sido as causas da falta de in­te­resse es­tran­geiro.

Ferrogrão: a dupla mão da destruição

Telma Monteiro

Cerca de R$ 40 bilhões é o valor previsto de investimento em obras de logística, só no Pará, conforme os projetos do governo federal. No Pará, em especial, o Ministério de Infraestrutura (MInfra) joga em todas as frentes para fazer passar a Ferrogrão ou EF-170, que pretende cortar a Amazônia ao meio, criar impactos diretos em Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Viabilizada pelo Novo Marco Legal das Ferrovias, a Ferrogrão tem sido objeto de questionamentos tanto pelo Supremo Tribunal Federal como pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A nova legislação sobre ferrovias foi aprovada pelo Congresso Nacional e possibilita que empresas privadas usem 100% dos próprios recursos.

Além do escoamento dos grãos produzidos no norte do Mato Grosso, a Ferrogrão poderá servir também para dar vazão à exploração do potencial mineral do estado do Pará. O Pará, sem sombra de dúvida, deve se transformar num grande foco de autorizações de processos minerários, para aproveitar o corredor logístico propiciado pela Ferrogrão. Não bastasse os impactos promovidos pela rodovia BR 163 que rasgou a Amazônia e promoveu a ocupação das suas margens no formato “espinha de peixe”, a Ferrogrão irá multiplicar exponencialmente os danos com seu traçado paralelo. A dupla mão da destruição.

Unidades de conservação atravessadas pelo projeto | Reprodução Telma Monteiro

Quem se habilitou para construir a Ferrogrão?

A primeira empresa e única (até o momento da postagem deste artigo) a formalizar o pedido para construir a Ferrogrão chama-se Zion Real Estate Ltda[1]. Uma pesquisa sobre a empresa nos leva a uma pequena construtora com características fora do escopo normal de construção de ferrovias e sem qualquer histórico de obras públicas. A Zion Real Estate Ltda tem duas sedes e dois CNPJs: 27.691.878/0001-77, uma sede está na cidade de Sorriso, MT, com 4 anos e 10 meses de existência, fundada em 09/05/2017; outra com o CNPJ 27.691.878/0002-58, foi fundada em 20/09/2021, com sede na Rua F-1 83 Sala 01, Praeirinho, Cuiabá, MT. A principal atividade econômica, conforme consta na Receita Federal, é a construção de moradias, não há menção sobre expertise em construção de ferrovias.

O capital social da Zion é R$ 1.520.000,00[2] (um milhão quinhentos e vinte mil Reais), valor que surpreende já que a Ferrogrão, de 987 quilômetros (somados os três trechos reivindicados pela empresa), requerem investimentos de aproximadamente R$10 bilhões. Como sócio administrador da empresa consta o nome de Gabrieli Mosena da Silva.

A Zion teve origem no Paraná com duas irmãs, Gabrieli Mosena[3] e Daniela[4] Mosena Librelato[5], uma arquiteta e outra engenheira civil. Daniela carrega o sobrenome Librelato[6], nome da empresa que é uma das maiores fabricantes de implementos rodoviários do País. Para se ter uma ideia do porte da Librelato, ela acabou de fechar acordo para fornecimento de 300 Rodotrens Basculantes Premium à AMAGGI, empresa do setor do agronegócio, e também voltada para Commodities, Logística e Operações e Energia do Brasil. A Librelato tem sede em Cuiabá, MT, e o setor do agronegócio é seu maior cliente.

A Zion pretende construir a Ferrogrão e pediu ao governo federal a concessão de três trechos.  Juntos ligariam a cidade de Sinop ao porto de Miritituba, no Pará, onde se dá o escoamento da safra de grãos de Mato Grosso que hoje passa pela BR 163.  Para isso, foi pedida a concessão de Sinop (MT) a Moraes Almeida (PA), de onde a ferrovia seguirá para Novo Paraná (PA) e, por fim, chegará a Miritituba (PA).

Atualmente, a Zion se transformou em Grupo Zion Real Estate que está habilitado pelo Ministério da Infraestrutura (MInfra) para construir o maior projeto logístico do país, a Ferrogrão que foi dividida em três trechos[7]:

1– Zion Real Estate LTDA: Novo Paraná/PA (Distrito de Trairão) a Miritituba/PA

2– Zion Real Estate LTDA: Moraes Almeida/PA (Distrito de Itaituba) a Novo Paraná/PA

3– Zion Real Estate LTDA: Sinop/MT a Moraes Almeida/PA

 

O que causa estranheza é que desde a habilitação do chamado Grupo Zion não houve mais nenhuma empresa interessada na Ferrogrão. Apesar de ser a cereja do bolo do projeto de logística do Brasil, apresentado nos EUA, Europa e Emirados Árabes, parece que a Ferrogrão não atraiu interessados internacionais. Talvez pelo fato de que o processo de licenciamento da Ferrogrão esteja para ser julgado pelo plenário do Supremo Tribunal Federal  (STF) devido a irregularidades na lei de desafetação do Parque Nacional do Jamanxim; e no Tribunal de Contas da União (TCU) por provocação do MPF que questiona a falta de consulta e os impactos não estudados em 48 povos indígenas ao longo do traçado proposto. A judicialização é um impeditivo para as grandes empresas internacionais se aventurarem em incertezas.

O Pro Trilhos ou Programa de Autorizações Ferroviárias considera a Ferrogrão como prioridade que vai satisfazer interesses dos setores da agricultura e pecuária, do Pará e do Mato Grosso. O pedido da Zion para construir os três trechos está em avaliação, mas, curiosamente, não são mencionados outros grupos interessados.

Tentei contato telefônico com a Zion, deixei meu telefone, mas não obtive retorno.

 

Um comentário:

  1. Que grande postagem. É uma boa empresa, já ouvi falar dela e parece confiável, há muito tempo houve um problema nas obras não lembro exatamente onde era, aparentemente a empresa que executou as obras não havia solicitado a licença de atividade (licencia de actividad) para obras, e eles tinham uma bagunça que você não vê Vamos torcer para que acabe logo e não destruam muito a Amazônia.

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