O “desenvolvimento
sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China
Telma
Monteiro, para o Correio da CidadaniaImagem: Portal Lubes
Não
esqueçamos que Angra 3 já está caindo de velha, antes mesmo de ser terminada. A
construção da usina, localizada no estado do Rio de Janeiro, entrou na sua fase
final com a montagem dos componentes principais e instalação do reator nuclear.
Angra 3 está em obras desde 30 de maio de 2010 e enfrentou vários atrasos ao
longo dos anos.
As
interrupções aconteceram em 2015 devido a uma revisão do financiamento e
investigações relacionadas à Operação Lava Jato, mas as obras foram retomadas
em 2022. Questões contratuais e a necessidade de novos investimentos contribuíram
para outros atrasos. A estimativa atual é que a usina venha a operar no final
de 2028 ou até 2030. O custo inicial de Angra 3 era de R$ 10 bilhões, mas hoje
está em torno de R$ 20,3 bilhões.
No
meio desse imbróglio com a construção de uma sucata que tem custado o dobro do
previsto, e nem vou entrar nesse mérito, o governo brasileiro assina esse
acordo com a China, para a construção de novas usinas nucleares no Brasil. A
promessa é de utilizar tecnologia avançada e “segura” fornecida pela China.
Ao
retornar no tempo, com a intenção de construir novas plantas de usinas nucleares,
o governo brasileiro ignora os riscos inerentes. Entre os pontos acordados está
a capacitação e treinamento de brasileiros para assimilar esse conhecimento “atualizado”
atribuído aos chineses.
Mesmo
com uma aversão da sociedade à tecnologia de usinas nucleares, o acordo tenta
dourar a pílula com a proposta de implementar novas medidas que incluem “sustentabilidade
ambiental” e segurança. No bojo do texto entre China e Brasil foram jogadas
pílulas de impropriedades como o de obter incremento na capacidade de gerar mais
energia no Brasil, além de mencionar uma diversificação na matriz energética.
Mas
a cereja do bolo ficou, mesmo, com o que chamaram de potencial para a redução
das emissões dos gases de efeito estufa, adotando a energia nuclear com o
carimbo de “fonte de energia limpa”. Mas essa parceria sai com chavões
desenvolvimentistas que conhecemos bem, o de impulsionar o desenvolvimento
econômico com inovação tecnológica e desenvolvimento sustentável entre os dois
países.
O
Brasil tem que considerar alguns desafios na implementação desse acordo, como a
segurança e o descarte dos resíduos perigosos. A construção e manutenção de
usinas nucleares requerem orçamentos altos e uma complexidade tecnológica. Considerando
a matriz energética brasileira, com o crescimento de geração pelas renováveis
como a eólica e solar, e as deploráveis hidrelétricas (gerando energia suja), construídas
às custas da biodiversidade, não haveria a necessidade da retomada da energia
nuclear.
No
entanto esse acordo entre Brasil e China, para construção de novas plantas
nucleares, tenta dar um tom de tecnologia moderna e avanço científico para o
país. Aceitar esse retrocesso é voltar ao passado com mais preocupações com
questões ambientais e de segurança.
A decisão de expandir o
uso de energia nuclear envolveria ponderar esses fatores e considerar as
necessidades energéticas futuras do Brasil, bem como as preocupações ambientais
e de segurança futura dos descartes dos resíduos.
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